A BONECA |
|
Sonia Regina R. Rodrigues |
|
- Titia já voltou de viagem ? - perguntei à vovó. - Já, e você nem imagina o que ela trouxe! Tentei imaginar o que a tia poderia ter trazido para deixar vovó tão irritada. - Minha sobrinha! Dê cá um abraço! Esta é a Luizinha. Fui levá-la à praia, pois ela nunca vira o mar. Olhei espantada para aquele toquinho de gente. Nunca vira criança tão magra e tão feia. Quase só ossos, cabelos quebradiços que pareciam palha. A menina arregalava os olhos para tudo e literalmente devorou as frutas e o leite que vovó serviu no lanche. A menininha morava no sertão da Bahia, na fazenda aonde a tia fora passar as férias. Chucra de tudo, envergonhada, bobinha. Seus olhos esbugalhavam-se de espanto ao ver os siris à beira-mar. Dava gritos de prazer ao catar conchinhas na areia. Titia comprou na feira uma dessas bonecas baratinhas, sem roupas e com cabelos desenhados no próprio plástico. Às escondidas, fez, com retalhos, roupinhas para a boneca, para presentear Luizinha. Quando eu encontrei a garota, no outro dia, ela gritou-me, radiante: - Veja a minha filhinha! Titia contou - nos, emocionada, que a garotinha apertara a boneca ao peito e adormecera agarrada a ela como se segurasse um tesouro. Sem dúvida, ela nunca pensara que poderia ter uma boneca. Eu, que possuía tantas bonecas caras, vi a felicidade estampada no olhar da pequena. E percebi as lágrimas que titia escondia, ao segredar-me: - Custa tão pouco dar alegria a alguém. |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor |