Tema 192 - MEU TESOURO!
Índice de autores
"Q-ANT, VALR CRUST"
E. Rohde

- Só se encontrássemos um mapa. Procurar assim, às escuras, é insano.
- Quem disse que existe um mapa?
- Quem disse que existe o tesouro?
- Nós temos os testemunhos.
- Esses não valem nada.
- E a pista no pergaminho.
- Pode significar qualquer coisa.
- Pode significar que o tesouro existe.
- Ou que o escriba estava com sono.
- Está escrito assim: "A quem encontrar, toda a riqueza da coroa."
- "Valr" pode ser traduzido de vários modos.
- Pode ser traduzido como riqueza.
- Pode ser traduzido como buraco.
- Você sabe muito bem que "buraco da coroa" não faz sentido.
- Não faz sentido falar em caça ao tesouro num tratado de curtumeria.
- Era uma informação secreta, tinha-se que falar veladamente.
- Dizer "riqueza da coroa" não seria muito velado se significasse justamente isso.
- Ninguém pensaria em procurar no livro de um sapateiro.
- Metade da palavra "coroa" está comida por traças.
- Escute aqui, estão oferecendo um patrocínio de dez milhões para a expedição. Ou você está dentro, ou está fora.
- Isso é outra coisa que eu queria falar.
- Fale.
- Se esse tesouro existisse mesmo, o patrocinador ficaria com noventa por cento de tudo o que fosse encontrado. Não sei se concordo.
- Ficaria se o tesouro existisse.
- Agora é você que diz que não existe.
- Claro que não existe. Você acha mesmo que eu iria cair no conto do sapateiro?
- Achei até agora.
- Claro que não. Se fosse "riqueza da coroa", a declinação seria outra. Substantivos subordinados não terminam em "-r". O texto ali ensina a dar menos atenção ao couro e mais ao espaço vazio no interior do sapato. É ali que entra o pé, é ali que o pé...
- Mas...
- O tal tesouro não existe.
- Nunca existiu?
- Até agora.
- Ãh?
- O patrocínio: esse é o tesouro.
- Então assine.
- Não vou assinar.
- Não?
- Por enquanto, não. Primeiro quero negociar uma cédula de swap para converter os dez por cento que caberiam a nós por um prêmio fixo no caso de insucesso.
- E dá para fazer isso?
- No mercado de derivativos dá.
- Então faça.
- Vou fazer.
- Nós vamos ficar ricos.
- Eu falei que o tesouro do sapateiro era real.
- Eu não acreditei.
- Não.
- Desculpe.
- Está desculpado.

Protegido de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto acima sem a expressa autorização do autor