OS
NOIVOS
Senta, meu filho, senta. Vamos bater um papo.
Ele
obedeceu:
Pronto, papai.
O
velho levantou-se. Andou de um lado para outro e senta de novo:
Quero saber, de ti, o seguinte: esse teu namoro é coisa séria?
Pra casar?
Vermelho,
respondeu:
Minhas intenções são boas.
O
outro esfrega as mãos.
Ótimo! Edila é uma moça direita, moça
de família. E o que eu não quero para minha filha,
não desejo para a filha dos outros. Agora, meu filho, vou
te dar um conselho.
Salviano
espera. Apesar de adulto, de homem-feito, considerava o pai uma
espécie de Bíblia. O velho, que estava sentado, ergue-se;
põe a mão no ombro do filho:
O grande golpe de um namorado, sabe qual é? No duro?
E baixa a voz: É não tocar na pequena, não
tomar certas liberdades, percebeu?
Assombro
de Salviano: "Mas, como? Liberdades, como?".
E
o pai:
Por exemplo: o beijo! Se você beija sua namorada a torto e
a direito, o que é que acontece? Você enjoa, meu filho.
Batata: enjoa! E quando chega o casamento, nem a mulher oferece
novidades para o homem, nem o homem para a mulher. A lua-de-mel
vai-se por água abaixo. Compreende?
Abismado
de tanta sabedoria, admitiu:
Compreendi.
(excerto
do livro A VIDA COMO ELA É... - Companhia das Letras - São
Paulo, 1992)
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