CASA
DE BALÕES
|
|
Carla
Deboni
|
|
Começou como todas as histórias de amor sempre começam. A troca de olhares, tão milenar e eterna, o contorno dos cílios se movendo com a graça lenta de quem se prepara para aprisionar. A vontade de rir, de gracejar, e ao mesmo tempo de dançar como se nem estivesse vendo. O medo de sumir de vista, as pupilas se movendo ansiosas em busca da silhueta que vai e vem no meio da multidão. Primeiro encontro. Segundo encontro. Terceiro encontro. Hora de pedir em namoro. Conhecer a família. Conquistar os amigos. O cachorro. Levar a irmã mais nova para passear em pleno domingo chuvoso. Comprar o anel mais bonito, a pedra mais delicada para o dedo - que ele acredita - vai guiá-lo até o final de seus dias. A taça de champanhe. O brinde. O noivado. Casamento marcado, festa paga. Promessa de felicidade eterna. Ela não tem mais certeza. Sempre compreensivo, ele a abraça com a calma da porta que se fecha, com a entrega do livro que se deixa folhear, com a doçura da manga açucarada que lambuza toda a língua sem se desculpar. Ela comemora, radiante: fizera a escolha certa. Depois da lua-de-mel, chega o primeiro filho. Presentes para todos: sogra, sogro, cunhados, esposa, bebê. Mas agora é ele quem não tem mais certeza. Resolve deixar a casa e despede-se de todos, um cansaço que lhe agarra o braço como uma criança perdida. Constrói uma casa na árvore e resolve se mudar. A mulher, desesperada, todos os dias pede para que ele desça. Comprou um quiosque, foi vender coco na Bahia. Terminou como terminam todas as histórias de amor. Um bilhete com palavras vagas, em tom de despedida. Porque um dos balões sempre murcha antes que o outro: o fôlego foi menor, o ar acabou. Justos no balão que parecia mais cheio. |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor
|