SALVA
DE CLAPS
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William
H. Stutz
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Outro
dia, para agradar à pessoa querida, assisti via internet a uma
conferência ao vivo. A minha máquina é mais rápida do que tartaruga em horário de cochilo, sem perspectivas de troca. Para o que dela normalmente exijo carece não. Esta tal conferência foi uma exceção. Precisaria de um computador de ponta, de hotel de luxo, daqueles com cama ergométrica e frigobar. Criei coragem, respirei fundo, peguei copo d`água e lá fui para minha primeira reunião virtual em tempo real. Nem no MSN me sinto bem! Confesso certa dificuldade em conversar com quem não posso olhar nos olhos. Nunca vou saber se a pessoa está de cara boa ou fazendo careta para mim. A única vantagem é que a recíproca também é verdadeira. A reunião, infortúnio meu, começou na hora certinha. Mais um desconforto. As apresentações: fulano apresenta sicrano que conhece beltrano e assim por diante. A preleção tem início, e o tarimbado apresentador toca a falar do produto/serviço com uma desenvoltura irritante. É como se nós aqui do outro lado fôssemos crianças, prontas a acreditar nas mágicas fórmulas de enriquecer com pouco trabalho. Papo vai, papo vem e o tempo passando lento. Impaciente, já estava com os pés sobre a mesa e bocejando. Em rápidas escapadas ia atrás de outro copo d'água, pois volta e meia o moço pedia que todos clicassem alguma coisa para que ele pudesse ter certeza de que todos estavam lá, e acordados. O palestrante impressiona. Usa uma técnica de convencimento que "com certeza" - tomei uma birra desta expressão - se o ouvinte estiver pronto a acreditar ele sai dali, beija a mulher e sorrindo confiança compra uma Ferrari vermelha zero, leva a família para fim de semana em Porto de Galinhas. Isso por conta do que jura que vai faturar quando voltar do passeio. Antes disso, vende a casa e entra em financiamento de mansão em condomínio fechado, troca todos os móveis e eletrodomésticos. E, de quebra, libera a plástica da esposa com o dr. Beleza em Beverly Hills. Tudo isso no fiado. Nada mais poderia me espantar. Se roesse unhas seria o momento adequado de acabá-las até a falange. Foram os minutos mais aborrecidos de minha vida virtual. Mas o mais estranho ainda estava por vir. Depois do rosário desfiado, de fórmulas mágicas e estratégias de abordagem, depois de indicar o site onde deveríamos nos cadastrar para sacramentar nossa postura de dóceis parvos, veio a chave de ouro. Outra voz, em tom solene, nos pediu que, em demonstração de alegria e felicidade, déssemos uma grande salva de claps para o mala. Levei vários segundos para entender o que seria a tal salva de claps. Queixo caído, comecei a ver pipocar na tela um clap atrás do outro. Minha paciência tem limite. Salva de claps? Qual o quê. CRTL+ALT+DEL isso sim, e rápido. Graças aos céus que não tenho câmera de vídeo em meu jurássico computador, "com certeza". |
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