Aquele
domingo esta particularmente cinzento.
Eram quatro amigos do passado (e bota passado nisso).
Todos tentavam ser simpáticos. Mas não rolava assunto comum.
Cada um vivia num mundo diferente.
Um falava da filha que casou.
Outro que fora candidato... Não foi eleito. Mas o azar foi da cidade.
Outro que aposentou e que os filhos estavam adultos. Tinha até
um neto.
Não havia comunhão de conversa. Ninguém tinha nada
em comum.
Um morava na Bahia, outro em Goiás, outro em São Paulo.
Aí, "derrepentemente", chegaram dois casais.
O marido, ela e a filha.
O marido, a esposa e uma filha.
A conversa começou a tomar novo rumo.
Ela falou com todo mundo,
Ele nem sentiu que ela o estava cumprimentando.
Tudo ficou em câmera lenta.
- Que coisa...
O almoço foi servido.
Cada um dos homens montou seu prato e voltou à varanda.
Ela olhou de soslaio quando ele passou.
As mulheres ficaram na saleta da cozinha.
Ele a olhou sentada à mesa.
- Quer um pouco dessa carne? - perguntou ela
- Quero sim. Está bonita...
- Acha? - levantou os olhos com um sorriso.
- Tenho certeza.
- A carne, né?
- Também.
Ela fingiu não entender.
A dona da casa passou olhando como visse alguma coisa diferente.
Os olhares se encontraram e baixaram aos pratos e ao fogão.
Mas o jardim já tinha florido.
Ela é uma margarida.
Margarida bem brasileira.
Foi o lado bom daquele domingo.
O domingo da Margarida.
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