Eu
queria de você uma palavra pelo olhar.
Um gesto singular e implacável!
Eu queria de você a oportunidade de novamente te esculpir sem me
preocupar com o tempo.
Uma escultura paciente feita por minhas mãos trêmulas numa
emoção incontida.
Eu queria que você estivesse bem aqui, neste exato momento distribuindo
uma ingenuidade marota e sugerindo um passeio pelo teu corpo sem roupa.
No ar a fragrância de tua química alvoroçada e teus
lábios adocicados.
Minha viagem através do teu ser fazendo descobertas surpreendentes!
Me pego quase em dormência sobre a folha de papel e numa piscadela
repentina, tento esboçar tua paisagem.
Focalizo tua geografia completa e revivo em pensamento minhas jornadas
através de ti.
De certeza mesmo, só sei que agora não se faz presente e
deve mergulhar em sonhos enquanto esta madrugada dispara de encontro ao
alvorecer.
O relógio quebra o silêncio!
Meu suspiro também!..
Talvez esta solidão pudesse ser amarga, mas sinto com ela um gosto
adocicado de morango maduro.
Não me perco pelos rumos do rancor ou da dor. Percebo neste momento
que apesar das divagações e desse desejo explícito,
existe a magia de uma luz que brilha com toda intensidade e que me permite
imaginar você, o teu desenho, a tua escultura enfim...
Eu queria muito de você, mas me contento com a tua ausência.
Só por ela, me é permito imaginar você!
Este é o lado bom da solidão!
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