METAS
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João
Rodrigues
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Ela ainda sentia a dor de tê-lo perdido. Ultimamente andava pior, sofrendo com insônia, e ficava vendo filmes até tarde, o que contribuía pra destacar suas olheiras. No trabalho, era um café atrás do outro. Voltou a fumar. Depois do almoço sentia uma lombeira terrível, uma vontade de ir pra casa, de abandonar tudo e sumir. Sumir para sempre. Não aguentava mais aquilo. Dia e noite era Marcelo, Marcelo, Marcelo. Criou um Orkut, o que nunca havia feito, pois achava coisa de adolescente ou de adultos desocupados. Começou a adicionar amigos: primeiro, os amigos mesmo; depois, aleatoriamente, qualquer um. Passou a aceitar todos. Sentia-se vazia e talvez isso a preenchesse. Precisava de apoio, entretenimento, sentir-se viva. Não funcionou. As olheiras aumentavam a cada dia. Virava noite lendo e respondendo recados. Alguns interessantes, outros nem tanto. Abria o e-mail na esperança de receber um simples "Oi" de Marcelo. Só spam. Um, dois, vários. Encheu-se de tudo. Abandonou a internet. Pois tudo o lembrava. À noite, em casa, não via mais TV. Qualquer cena fazia lembrar-se dele. A música do rádio trazia recordações, nem mesmo um livro conseguia mais ler. A simples letra "m" lhe trazia saudades. Que infelicidade! Entediou-se. Chorou. Deprimiu-se. Tinha que descobrir o lado bom de tudo aquilo. Algo tinha que prestar. E descobriu. Não via mais novelas, não entrava mais na internet, começou a correr. Emagreceu, passou a cuidar mais dos cabelos, da pele, do corpo. E estabeleceu metas. Chegou ao peso ideal, ao corpo perfeito, a pele estava bela e os cabelos lindos. Sumiram as olheiras e parou de fumar. Fez cursos e até conseguiu uma promoção no trabalho. Tudo perfeito! Agora estabelecera mais uma meta: reconquistar Marcelo. |
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