O
LADO BOM DAS COISAS
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Flavio
Luengo Gimenez
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Minha
história começa pelo final. Minha mãe já me
dizia, no meio de seu sofrimento, que tudo tem seu lado bom e seu lado
ruim; ela conseguia ver o lado bom de tudo. Era impressionante! --Gostosa! Não sou para qualquer um! É aí que começa minha história, num dia chuvoso, eu sozinha em casa, sem luz e à luz de uma vela que teima em sobreviver. Como se fosse minha chama interior, ela bruxuleia e enche de sombras as paredes da pequena sala de minha casa aconchegante, onde eu tiro minhas roupas ao chegar e desfilo como vim ao mundo, satisfeita pelo vento entre minhas coxas torneadas. Satisfeita da vida e comigo mesma, gosto do que vejo no espelho. Só não gosto de uma certa pinta, ela se acerca de...Bem, não vou contar tantas intimidades assim. É quando eu penso nele. --Sinto
tua falta, morena! Ah, é sempre ele que sofre. Sempre ele, com seu egoísmo, sempre virado ao próprio umbigo; sempre ele, sempre sua família. E eu? Não conto nestas horas? Só tenho valor na cama? Só sirvo para lembrar a ele que ele deve se esquecer do que foi e viver o que poderia ser? --É
para isto que ficamos juntos? Ele sempre interrompe nossa conversa assim. Diz que me ama, mas fica dias sem aparecer, nem telefona. Eu olho para a janela embaçada e já nem sei se o que turva a imagem da cidade enevoada é dela mesma ou uma ilusão de meus olhos cheios de lágrimas que eu disfarço no dia a dia, no trabalho, nas ruas por onde passo leve como uma pluma e pensativa como uma estatua. --Minha
nossa, é um monumento. Não sou, não. Lá onde trabalho, todos conhecem meu sorriso. Dizem, eles dizem, que meus dentes parecem o teclado de um piano, de onde saem lindas notas musicais e perfumadas, olhem só, que elogio! Quem diz isto são meus amigos. E ele de vez em quando me despreza, diz que está cansado, que trabalhou muito e que prefere ficar em sua casa, que é onde mora sua família, não a nossa que é onde vive seu verdadeiro amor, que sou eu. Pelo menos eu acho que sou mas cá entre nós, que ninguém me ouça neste dia feio e maltrapilho, eu acho mesmo é que é comodismo puro. --Não
seja tola! Bem, foi pelo final de um grande amor que principiei a contar minha história; às vezes o princípio é o fim e o fim pode ser um recomeço. Como não sou de ficar triste demais, como adoro os raios de sol que a vida nos traz, como amo de paixão andar pelas ruas leve e solta... --Gostosa!!! Enfim...Tudo tem o seu lado bom... |
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