Tema 190 - O LADO BOM...
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E AGORA?
Adriana V. Bastos

Sofia perguntou a Carina, na esperança de que esta tivesse uma varinha de condão, capaz de mandar ao espaço todo o seu sofrimento. Acabara de terminar um relacionamento de dez anos.

E agora? Tornou a repetir.

Carina, desconfortável, percebeu naquele momento, que era a sua vez de questionar: Como dizer que a sua varinha, além de não ser mágica, tinha o dom de cutucar ainda mais a ferida de Sofia?

Percebeu, ainda mais desconfortável, que não adiantava lhe dizer que tudo na vida passa, e que ninguém merecia o seu sofrimento. Sabia o quanto as falas prontas, em vez de ânimo, acabam irritando e deixando o outro ainda mais pra baixo.

Só quem nunca sofrera por amor, poderia ser insensível a esta dor!

Sofia encontrava-se no meio da sua "tempestade" pessoal. A dor impedia-lhe de ver que o fato de escolher mal não significava que precisava envergonhar-se por isto. Nem transformar esta escolha numa experiência capaz de colocar em risco a sua percepção.

Torturava-se tanto sem perceber que a única certeza que se tem na vida é a de que as certezas se baseiam apenas naquilo que se acredita no momento vivido. O momento seguinte é outra história. E só o dia a dia para demonstrar se a pessoa foi feliz ou na sua escolha.

Carina sabia o quanto era difícil para Sofia reconhecer que não havia porque se envergonhar de sua escolha infeliz. Deveria, sim, permitir-se viver o luto pelo rompimento, luto pela perda e, principalmente, o luto por ter dado errado o investimento naquele relacionamento.

Com muito tato, Carina disse à amiga que ela tinha o direito de chorar, espernear até cansar de se lamentar. Pois sofrimento também cansa. Cansa não só aos ouvintes, como até os próprios protagonistas. Certamente, quanto mais exorcizado os fantasmas mais cedo ela ficaria livre deles e, consequentemente, recuperaria a auto-estima. Afinal, não valia a pena sofrer indefinidamente por alguém que já a havia expulsado de sua vida faz tempo...

Era o máximo que Carina podia fazer. Sabia que Sofia teria que enfrentar sozinha os ciclos do seu vendaval em busca da calmaria que, certamente, voltaria a sentir.

Só assim Sofia, após esta catarse pessoal, estaria livre para ver o lado bom daquela ruptura - a hora de seguir em frente - . Seguir, pois atrás vem gente. Gente que certamente teria condições de fazê-la feliz. Afinal, era isto que ela sempre quis.

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