Tema 189 - ANGÚSTIA
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MOMENTOS FINAIS
Vera Vilela

Como é difícil perder a mãe, quando eu era pequena achava isso a pior coisa do mundo, fui crescendo e tantos problemas, e filhos, a mãe vai ficando em segundo plano, mas a gente sabe que ela está sempre ali.

Tem momentos que eu perdi a paciência, confesso. Quantas vezes ela precisou de algumas palavras de carinho e eu, envolvida com meus próprios problemas não dei muita atenção. Quantas vezes torci o nariz para suas reclamações ou até mesmo para seus gemidos.

Dona Nilza foi uma mulher guerreira, batalhadora. Criou, juntamente com meu pai, dez filhos, sendo que o mais novo nasceu cheio de problemas, uma criança especial para sempre. Lavou roupa para muita gente a fim de ajudar no orçamento da casa que era escasso. Nunca reclamou ou se estressou com os problemas da família.

Sua saúde sempre ficou em último lugar e eu pensava que ela era eterna.

Além dos filhos recebeu todas as filhas e noras quando pariram, deu e ensinou os primeiros cuidados aos recém nascidos.

Benzeu muita gente, era católica praticante e participante. Mesmo na cadeira de rodas ainda fazia questão de cumprir suas obrigações de ministra da eucaristia e nunca negou ajuda a todos que a procuravam.

Tinha um gênio difícil, era brava demais e gostava de ter o controle de tudo em casa, mas foi assim que educou todos os filhos no caminho do bem.

Passei os últimos dias dela em sua companhia. Acompanhei todo o seu sofrimento, que não foi pouco. Ela foi obrigada a se internar num hospital público porque justamente quando mais precisou seu convênio estava abrindo falência.

Sentiu muitas dores, dores absurdas e clamava por um remédio que as aliviasse.
Ao seu lado senti muita tristeza, impotência, raiva, angustia por não poder ajudá-la.
Justo ela que tantas vezes aliviou minhas dores.

Assisti o péssimo tratamento de enfermeiras mal preparadas que fizeram com que seu sofrimento fosse aumentado muito mais. Erros constantes, grosseiros, falta de vontade e mau humor. Algumas raras exceções, é claro!

Em sua última noite presenciei seu sofrimento máximo, o desespero pela dor e por querer continuar viva, ouvi-a chamar pelos filhos, pelo marido. Ela tentava fazer o sinal da cruz, inutilmente, seus braços não a obedeciam mais, eu a ajudei.

Já no raiar do dia, totalmente sem forças ela disse por três vezes: Mãe, mãe, mãe. Inspirou profundamente e parou. Eu disse então a ela: Mãe fica calma, tudo vai dar certo. O médico ainda tentou entubá-la, mas foi em vão, ela já não tinha mais forças.
Andando de um lado para outro nos corredores do hospital eu tentava achar uma justificativa, um meio de entender o que estava acontecendo e a única coisa que me ocorreu é que ela sofreu tanto assim porque não quis ceder à morte, ela lutou muito para continuar ao lado dos filhos e marido.

Quando voltei ao quarto ela estava inerte sobre a maca, pela primeira vez na vida vi minha mãe quieta, parada, descansada. Seus olhos ainda estavam abertos, eu os fechei, para sempre!

Peguei sua mão e beijei, pedi sua benção pela última vez. Beijei sua face e acariciei seus cabelos, disse também mais uma vez: Eu te amo muito, mãezinha.

Agora que ela se foi um buraco se abriu, uma sensação estranha de insegurança, uma descendência perdida, um elo quebrado e a certeza que de mim, agora, apenas o futuro, de mim para os filhos.

A impressão que tenho é que amadureci anos em apenas um dia. Agora é comigo, não tem mais colo, não tem mais ouvidos, não tem mais as mãos enrugadas e calejadas, as mesmas que na noite anterior a sua morte, quando eu já cansada me debrucei na cama, se esticaram para fazer carinho em meus cabelos.

Somente agora eu compreendo a importância de minha vida. Uma mãe faz muita falta e espero estar ao lado dos meus filhos por muito tempo ainda.

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