ANGÚSTIA
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Marcos
Correia
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Cansado do convívio com outros seres humanos, o viúvo buscou refúgio na fantasia. Criou toda uma penca de pessoas inverossímeis, fruto de sua quase inesgotável criatividade. Cheias de manias e medos, essas pessoas inventadas. Chatas como as pessoas reais. Inferiores como qualquer outra pessoa que não fosse a falecida. Inferiores como ele próprio se sentia, reduzido à metade sem a metade que o completava. Destilando seu cinismo e desencanto naquelas caricaturas que fabricava. Um arremedo de diversão. Inventou uma amante, mais virtual que qualquer webgirl, existente apenas em suas figurações introspectivas. Arranjou para ela um nome, Acácia. Um corpo, de formas generosas, pernas compridas e roliças, bunda redonda, seios de mulher-jaca. Ao lado dessas características, que muitos considerariam qualidades, acrescentou uma série de defeitos. Acácia seria uma mulher volúvel, de se deixar no vento sem rumo certo. Insaciável à beira da danação. Quanto mais bizarro o sexo, melhor. Pensando bem, haverá quem ache nesses atributos mais vantagens do que problemas de personalidade. Defeito mesmo, só o de beijar muito mal, imaginou Procópio. Beijo de hálito de cebola, língua esponjosa com mania de enfiar-se em boca alheia. Só aparece de vez em quando. O sexo vai direto aos finalmentes. _Não dá para beijar você, Acácia. No fim do ato, invariavelmente, o viúvo imagina que uma boa punheta teria sido mais interessante. Não vê a hora de se livrar da amante-fantasma. Não suporta a convivência com as pessoas de verdade. Não suporta a convivência com as pessoas de mentira. Não suporta a vida. Melhor dar fim a tudo, cortar os pulsos e ir se encontrar com a morta. Não, se cortar os pulsos, é possível que algum intrometido ainda tenha tempo de salvá-lo. Lembra-se do que disse um amigo jornalista, com ares de especialista no assunto: _Quem quer se matar mesmo, pega um "trezoitão" e aperta o gatilho, assim, com o cano apontando pro céu-da-boca. Os outros, que pulam de prédio ou tomam veneno, só querem chamar a atenção. O viúvo não quer a atenção de ninguém. Só quer ser esquecido, esquecer de si mesmo, esquecer tudo. Aquela dor, aquele acidente, aquela perda. Colocou o relógio para despertar e tentou dormir. |
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