RECÉM-CASADOS
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Juliana
C. Circhia de Souza
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Eram os dois casados há alguns meses. Naquele tempo, quando se casava ganhavam a casa dos pais,mas o resto era por conta deles,os noivos. Laércio já trabalhava no ofício de vidraceiro e Elza era somente dona de casa. Moça prendada ,filha de caiçaras acostumara-se com as poucas coisas da vida. Dava valor ao que realmente necessitava. De bonito mesmo,quase nada tinha .O enxoval bordado,uns poucos móveis e algumas louças. Suas panelas eram de ferro, pesadas ,usadas no fogão à lenha,herdadas algumas da avó,outras de tias e da mãe. Quando passeava por Registro,nas raras vezes que conseguia ir até lá,namorava numa loja um fogão a gás e panelas de àgata. Detestava ter que toda manhã usar aqueles utensílios pesados e sem cor com o qual cozinhava. Então veio o primeiro filho , Laércio temendo pela jovem esposa e querendo agradá-la,resolve que irá dar de presente a ela um fogão a gás. Elza nem cabia em si de contentamento.Fazia planos para bolos maravilhosos,quitutes para o marido e o filho... O fogão então chegou.Elza passava horas admirando-o. Mas faltavam as panelas,as maravilhosas panelas de àgata com a qual sonhava. Laércio, então ,disse que ela precisaria esperar uns meses até poder juntar mais um pouco de dinheiro e comprar as panelas. Por dentro,uma enorme angústia a corroía.Ver seu fogão ali,sem nunca ter cozinhado um arroz,assado um bolo,era demais. Um dia, ela ouviu de casa,um mascate que anunciava de sua Kombi: -Troco metais por panelas,canecas,assadeiras,bacias e outros utensílios. Ouvindo aquilo,imediatamente olhou para sua aliança.Tão desnecessária presa a seu dedo. Tinha certeza que as panelas serviriam mais do que aquela argola dourada. Sem piscar vai até o portão,corre a esquina e chama o ambulante. Claro que ao ver a reluzente aliança,o mascate nem discute,junta panelas,tampas,canecas,bacias e rapidamente entrega a Elza...(talvez pensando num possível arrependimento), fecha as portas da Kombi e trata de sumir logo dali. Enquanto isso, Elza a resolvida volta pra casa carregada com seu tesouro. Mais tarde,Laércio vem almoçar,encontra no fogão novo,panelas quentes,com comida dentro. Curioso pergunta a Elza onde arranjara as panelas.Quando ela conta,o coitado quase cai das pernas.Tenta em vão correr pela cidade com sua bicicleta a procura do mascate para desfazer a troca.Volta para casa cansado e triste. Não acreditava que Elza tinha sido capaz de trocar sua preciosa aliança de casamento por panelas. Mas,fazer o que... O jeito era esquecer. Então abriu uma panela,serviu-se,sentou-se a mesa e constatou,realmente o sabor da comida feito ali era mais sofisticado sem aquele gostinho de fumaça... |
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