Tema 189 - ANGÚSTIA
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FINANZKRISE
E. Rohde

Ajustou o nó da gravata no espelho da cristaleira, beijou a mulher e o filho e desceu para o carro estacionado na transversal da Avenida Ataulfo de Paiva.

No rádio, música. Depois as notícias.

- Multinacional alemã anuncia demissões. Cortes afetam escritório do Rio.

- Que porra é essa?

Telefonou para a secretária, mas era cedo para encontrá-la na sua mesa. Pensou em ligar para o celular. Desistiu.

- Se ela ainda não recebeu a notícia, não quero ser eu a dar.

Tentou o chefe. Enquanto chamava, ouviu o bip de bateria fraca. Com a mão esquerda no telefone, apoiou o cotovelo no volante e usou a mão direita para apalpar o porta-luvas.

- Alô?

- Alô. Aqui é o Roberto. Ouvi a notícia no rádio.

- Pois é.

- Devo me preocupar?

- Agora não posso falar. Você está vindo para o escritório?

- Como todos os dias.

- Conversamos quando você chegar.

- Não dá para me adiantar algo?

- Até logo, então.

- Alô?

Desligou. Mais um bip de bateria fraca.

- Depois eu vejo isso.

Se recompôs no assento, apoiou o telefone no banco do passageiro, duas mãos no volante, olhos na estrada mas a cabeça longe. Fechou o sinal. O da frente parou, ele não.

Desceram os dois motoristas.

- A senhora me perdoe, foi um momento de distração.

- O senhor tem seguro?

- Claro. Tome o meu cartão. Anoto o número da apólice atrás. Me ligue quando tiver um orçamento.

- Vou chamar a polícia para fazer o BO.

- É que eu tenho pressa.

- Sem BO a sua seguradora não vai pagar.

Roberto estava por dizer "então eu pago do meu bolso", mas se lembrou de que talvez não tivesse renda para se permitir esse luxo.

Eram dez horas quando se desvencilhou da mulher, da polícia e do guincho. Sim, porque a colisão furou o radiador e amassou a ventarola. Agora era pegar táxi ou ônibus.

- Ônibus é mais barato.

Se informou de que ônibus pegar e foi para a Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Abriu a carteira para separar o dinheiro da passagem. Não tinha um tostão.

Saiu a procura de um caixa eletrônico. No primeiro banco os caixas estavam fora do ar. No segundo, tinha fila. No terceiro... andou dois quarteirões e não encontrou terceiro. Voltou para a fila do segundo.

Olhou o relógio: dez e meia. Cinco pessoas na frente. Pegou o celular que a essa altura já não dava mais sinal de vida. Apelou para o colega de fila:

- O senhor me empresta o telefone? É coisa urgente. Ligação de celular para celular. Eu pago a chamada.

O homem não deu conversa. Nem adiantaria. Todos os números de que precisava estavam na memória do aparelho sem carga.

Quatro pessoas na frente.

- Isso aqui vai demorar. Preciso achar um orelhão.

Saiu da fila. O plano era ligar para casa e pedir os números do escritório à mulher. Ela devia ter isso anotado em algum lugar. Parou na banca de revistas:

- Tem orelhão aqui perto?

- Virando a esquina.

- Me dá um cartão.

- São cinco reais.

- Puta que pariu.

Voltou para a fila do banco, agora com sete pessoas na frente. Esperou, impaciente.

Quando chegou a sua vez, enfiou o cartão na máquina: "Cartão inválido. Favor contatar a sua agência". Tentou o cartão de crédito. Esse funcionava. Só que pedia senha.

- E eu lá sei essa senha?

Não era igual à senha da conta corrente. Saiu do quiosque sem saber o que fazer. Olhou em volta. Passava um táxi. Acenou. Parou. Entrou.

- Para a Avenida Presidente Vargas.

Ia pagar com cheque, mas não disse isso ao motorista.

Quando chegaram na Pricesa Isabel estava tudo parado. Pegou de novo o celular. Tentou ligar. Uma tentativa desesperada.

- Se passar por orelhão, pare.

A contragosto, o motorista assentiu.

Do orelhão, ligou para casa a cobrar ("como é que eu não pensei nisso antes?") e conseguiu o número do Arnaldo. Telefonou para ele:

- Após o sinal diga seu nome e a cidade de onde está falando.

- Aqui é o Roberto.

- Cara, onde é que você está? Você não sabe a bomba.

- Ouvi no rádio. Já liberaram os nomes?

- Ainda não. Estamos na sala de conferências. Olha, tenho que desligar. Te ligo quando souber alguma coisa.

- Espera. Estou sem... desligou.

Tentou chamar de novo, mas o número agora estava fora de área. Nessa hora sentiu um toque no bolso e um vulto se afastando.

- Pega ladrão!

Correu feito um louco sem saber direito para onde. Foi alcançado pelo taxista.

- Quando vi que ele ia dar o bote, tentei avisar.

- Deixa para lá.

Voltaram para o carro.

- O que é que vai ser, Doutor? Presidente Vargas ou delegacia?

- Me leva para casa.

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