Não sei por que, mas gosto mais do outono do que da primavera. Talvez pela tranqüilidade da estação, sem a pressa das águas que lambem as encostas de um verão inacabado. Sem a curiosidade das baixas temperaturas que arrepiam a pele embaixo do agasalho no final de uma tarde despretensiosa no inverno. E muito menos com a preocupação de florir ou fazer sorrir. É como a pirueta que a bailarina ensaia na hora certa, como os vícios que curtimos sem olhar o relógio.

O outono é aquela charada que não precisa explicar às crianças. Uma angústia doce, completa simplesmente por nada esperar ou pedir. Que se sabe inútil sem precisar justificar como preenche os dias de abril e as noites de maio. Embora a memória não busque, a verdade é que sabemos essa cantiga de cor.

E é por isso que existe Deus. No estalo de uma folha seca, uma partitura em clave de sol. E a saudade de um tempo que passou, que a alma, sempre atrasada, não consegue acompanhar. Porque é no passado que mora tudo o que ela amou.

Afinal, de nada vale a estação se os telhados continuam cobertos. E as janelas, fechadas por medo de um novo temporal.