TIO
TÃO
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Beto
Muniz
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TIO TÃO - TIPO INESQUECÍVEL 1 Acho
que todo mundo tem seus personagens inesquecíveis. Eu tenho alguns
ainda vivos. Outros, já foram para o Oriente Eterno. Desses que
já foram está o meu tio Agildo. Era um sujeito diferente
de toda família. Um verdadeiro índio. Não aceitava
brincadeiras de ninguém, exceto dos dois sobrinhos mais velhos:
eu e o Bebé. Aqui pra nós, acho que Bebé era o mais
querido. Mas eu não tinha inveja. Na verdade, ele é especial
e meu amigo eterno. Sempre a gente estava de férias, corria à
casa do tio Tão (era o apelido dele) e saia para caçar e
pescar. -
Acho bom vocês calçarem um tênis... -
Mas o senhor num vai descalço...? -
Vou. Mas meu pé já ta acostumado. -
Isso é uma cascão... (gritou Bebé) -
Cascão é tua mãe... (respondeu sorrindo) E
lá fomos nós. Eu com um chapéu de palha (sempre gostei),
Bebé, cabeludo, não usava chapéu e ele, tio Tão,
com um boné. Ele não deixava ninguém ver sua careca.
Até no banheiro ele entrava de boné. Acho
que ninguém que conheci pegava tanto peixe quanto ele. A fieira
já tinha pra mais de 20 e a nossa (de nós dois) somente
três. -
E olha que foi na sorte... -
Sorte tua, Carrinho. Eu peguei dois. Num peguei mais porque você
me atrapalhou. -
Mas óia... Pegasse na cagada... -
Olha Tão ali. A gente saiu daquele pesqueiro agora mermo e num
pegou nada. -
É mermo, rapaz, ele já pegou pra mais de quatro... Nós
saímos pelo outro lado do riacho, passamos pelo mato, demos uma
volta por trás dele e saltamos gritando sobre ele. Tio Tão
deu um salto de lado, gritou assustado, soltou a fieira e o caniço.
Perdeu quenga de minhocas, levantou-se dentro d'água com os olhos
esbugalhados, ainda assustado... -
Que porra é isso? -
Se assombrou, né Veio? -
Eu lá sou homem de me assombrar!!! Pegou
a fieira e a vara de volta, lavou a quenga e subiu no barreiro pra cavar
minhoca. -
Que negócio marrom é esse no funda da bermuda? Ele
passou a mão, olhou os dedos e vaticinou: -
Isso é lama marrom, Bebé. Deixa de frescura... A gente, ainda sorrindo, saiu para outro pesqueiro e ficou olhando pra ele no canto da barreira. Essa cena a gente jamais esquece: Ele olhou pra trás pra saber se estava sozinho, levou a mão ao fundo da calça, passou os dedos uns nos outros e cheirou. Fez uma careta e baixou na água pra lavar bem. Cagou-se! |
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