Tema 188 - ASSOMBRO
BIOGRAFIA
TIO TÃO
Beto Muniz

TIO TÃO - TIPO INESQUECÍVEL 1

Acho que todo mundo tem seus personagens inesquecíveis. Eu tenho alguns ainda vivos. Outros, já foram para o Oriente Eterno. Desses que já foram está o meu tio Agildo. Era um sujeito diferente de toda família. Um verdadeiro índio. Não aceitava brincadeiras de ninguém, exceto dos dois sobrinhos mais velhos: eu e o Bebé. Aqui pra nós, acho que Bebé era o mais querido. Mas eu não tinha inveja. Na verdade, ele é especial e meu amigo eterno. Sempre a gente estava de férias, corria à casa do tio Tão (era o apelido dele) e saia para caçar e pescar.

- Acho bom vocês calçarem um tênis...

- Mas o senhor num vai descalço...?

- Vou. Mas meu pé já ta acostumado.

- Isso é uma cascão... (gritou Bebé)

- Cascão é tua mãe... (respondeu sorrindo)

E lá fomos nós. Eu com um chapéu de palha (sempre gostei), Bebé, cabeludo, não usava chapéu e ele, tio Tão, com um boné. Ele não deixava ninguém ver sua careca. Até no banheiro ele entrava de boné.

Acho que ninguém que conheci pegava tanto peixe quanto ele. A fieira já tinha pra mais de 20 e a nossa (de nós dois) somente três.

- E olha que foi na sorte...

- Sorte tua, Carrinho. Eu peguei dois. Num peguei mais porque você me atrapalhou.

- Mas óia... Pegasse na cagada...

- Olha Tão ali. A gente saiu daquele pesqueiro agora mermo e num pegou nada.

- É mermo, rapaz, ele já pegou pra mais de quatro...

Nós saímos pelo outro lado do riacho, passamos pelo mato, demos uma volta por trás dele e saltamos gritando sobre ele. Tio Tão deu um salto de lado, gritou assustado, soltou a fieira e o caniço. Perdeu quenga de minhocas, levantou-se dentro d'água com os olhos esbugalhados, ainda assustado...

- Que porra é isso?

- Se assombrou, né Veio?

- Eu lá sou homem de me assombrar!!!

Pegou a fieira e a vara de volta, lavou a quenga e subiu no barreiro pra cavar minhoca.

- Que negócio marrom é esse no funda da bermuda?

Ele passou a mão, olhou os dedos e vaticinou:

- Isso é lama marrom, Bebé. Deixa de frescura...

A gente, ainda sorrindo, saiu para outro pesqueiro e ficou olhando pra ele no canto da barreira.

Essa cena a gente jamais esquece: Ele olhou pra trás pra saber se estava sozinho, levou a mão ao fundo da calça, passou os dedos uns nos outros e cheirou. Fez uma careta e baixou na água pra lavar bem. Cagou-se!

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