ÁGUA
VERMELHA
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Eduardo
Prearo
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A espiriteira, enfim, prescindiria da aposentadoria. Greg, antes de partir, olhou-se no espelho e notou que a barba despontava branca. Estava levando somente algumas peças de roupa e documentos que ele considerava importantes. Errara demais na vida e continuava errando. E errar parecia significar o fim da sobrevivência na terra da garoa ou em qualquer parte. Por que não era competitivo como os outros, os outros que pareciam inexpugáveis? Dentre os problemas mentais que tinha um ele não sabia o nome: quando andava pelas ruas achava-se perseguido, desprezado. Afinal, o que ele queria? Queria que as pessoas o assediassem? Talvez, mas o fato é que parecia haver um complô contra ele. Não havia conversa com ninguém. Greg ouvia a conversa alheia, a conversa de quem de certa forma estava dando certo, seja pelos músculos trabalhados, pelos bens, pela inteligência, etc. Encrespara-se pela manhã quando alguém desconhecido teceu um comentário sobre a camisa rosa dele. No passado não fora assim; no passado ele vestia camisas rosa e ninguém falava que ele não era homem por isso. Os mendigos dormindo pelos cantos o acalmavam; mas se porventura ele se tornasse um, haveria então uma lei proibindo mendigos de dormirem em lugares públicos, disso ele tinha certeza. Olhou-se mais uma vez no espelho e depois despediu-se da casa, do lugar. Agora que talvez não ficasse mais tão só, previa que seria corrigido em tudo. Então, pediu a Deus pela perfeição absoluta e também por uma santidade incomum. Por que se chateava quando diziam que errava se não tinha amigos nem bens nem amantes? Abriu a porta e viu um disco voador. Mas se ele estava vendo aquilo, bilhões também estavam; a Terra estava sendo invadida. Todavia não, só ele estava vendo aquele objeto voador; sinal de que um dia ele também seria especial. Voltou, achando-se uma falha humana, fechou a porta e escreveu alguns versos monorrimos: No
mar da crise No
vale das sombras |
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