Atualização nº 187 - ESCRAVO
BIOGRAFIA
UMA NOVA HISTÓRIA...
Rubens Alves

Ele a segura pela cintura e aproxima sua face a dela, abrindo devagar sua boca, seu hálito era doce como chiclete, ela foi fechando seus olhos, deixando que aquele momento se eternizasse por si só, as bocas se tocaram, houve naquele momento uma troca, um dava ao outro um pedacinho de si, completando o seguinte, o tempo parou, era como se todos parassem para vislumbrar o casal, era um sonho, , Le para por um instante de beijá-la, a olha profundamente nos olho que se abrem aos poucos se perguntando se aquilo seria ou não realidade, e ele diz "Eu te amo" , voltando a beijá-la de leve, mas com intensidade. No canto do televisor aparece uma palavra FIM...

- Sabia, todo final de novela é a mesma merda, mocinho e mocinha juntos, vilões mortos, presos ou loucos, coadjuvantes com finais pífios ou sem nexo e um monte de gravidez e casamento, tão clichê... - Resmungava o velho Entojado, homem de quase 80 anos, que vivia sozinho em uma cidade tão pequena cujo o nome e o lugar não me proponho em dizer, pois não creio que influenciara em nossa historia, mas por que contar a historia de um velho de quase 80 anos? Pelo simples fato de não contar a sua historia, e sim a historia que irá escrever, naquela noite, mais uma vez indignado com o final da novela das oito, tomou uma decisão, que mudaria por completo a vida de todo mundo, ou pelo menos a sua vida, após o final de sua novela, Entojado entra em seu MSN, você pode pensar, quem conversa com um velho de 80 anos em um chat? Apenas uma pessoa, um senhora de 74 anos, em outra época poderíamos dizer que Entojado a "paquerava", mas na idade me que se encontravam, um servia de apoio a o outro apenas, para que nos instantes em que conversavam, pudessem se sentir-se jovens novamente, não que não gostassem de sua condição idosa, acreditavam que saber envelhecer era uma virtude, mas sempre há aquela nostalgia intacta no coração de quem amou sua vida.

entojadinho@email.com diz:

- Olá bela dama. Como esta seu começo de noite?

bonitinha1952@email.com diz:

- Boa noite cavalheiro, meu começo de noite stá desagradável, acabei de ver o final da novela e estou sinceramente decepcionada com o autor, esperava mais desta trama, perdi mais oito meses de minha vida, acompanhando a vida de outros personagens, para chegar ao fim ridículo a que chegamos, imperdoável, imperdoável...

entojado@email.com diz:

-Realmente, decepcionei-me também... mas tomei uma decisão, na segunda - feira, não assistirei mais novela, estarei de greve por bons textos, historia com bom começo e final decente.

bonitinha1952@email.com diz:

- Farei o mesmo, não agüento mais essa desconsideração que esses autores tem por nós, enrolam, enrolam, enrolam e quando chega na hora H, do vamos ver, pronto, fazem o que fazem...

entojado@email.com diz:

- Eu escreveria uma novela bem melhor do que estas que passam ai nestas emissoras...

bonitinha1952@email.com diz:

- É isso, já sei o que podemos fazer...

entojado@email.com diz:

- O que podemos fazer?

bonitinha1952@hotmail.com diz:

- Vamos escrever nós mesmos uma novela.

entojado@email.com diz:

- Ótima idéia, mas como faremos isso?

bonitinha1952@email.com diz:

- Cada um escreve uma parte por dia e apresenta ao outro que no dia seguinte continua a historia.

entojado@email.com diz:

- Você me surpreende : ) Mas quem vai começar? Eu ou você?

bonitinha1952@email.com diz:

- Oras, começa quem deu a idéia, no caso eu né???

entojado@email.com diz:

- Então ta aguardarei ate amanha para ver o começo da nossa novela. Xauzinho, tenho que ir, já passou da hora de tomar meus remédios.

bonitinha1952@email.com diz:

- Durma com os anjos viu, e boa noite. E vê se toma esses remédios mesmo pra não morrer ate a amanha.

Ambos saem do bate papo, seu entojado vai tomar seus remédios, já a bonitinha 1952 começa a escrever em seu computador suas primeiras idéias. Mas como começar uma historia diferente, quem seriam seus personagens e o que eles fariam? Haveria romance? Lógico que tinha que haver romance, mas como ele iria acontecer? Onde, em que época? Perdeu quase uma hora pensando e chegou a uma conclusão, não tinha nada em mente, como criar uma historia diferente do clichê utilizado nas telenovelas?

Por volta das uma da madrugada, bonitinha 1952 estava dormindo sobre as teclas de seu computador, cujo três palavras haviam sido digitadas no editor de texto: "Era uma vez..."

No dia seguinte, seu entojado segue sua rotina, acorda as seis, sai para caminhar pela praia, toma um banho, logo depois prepara seu café da manha, sempre composto por frutas, aveia, leite e seus remédios do coração, ele tinha três marca passos, não podia descuidar não, e por mais que não visse sentido em continuar vivendo, algo o impulsionava em continuar tentando viver. Passou o dia inteiro em casa, como todos os outros dias dos últimos dez anos, só que neste dia tinha uma expectativa diferente, estava muito ansioso em descobrir o que a bonitinha havia escrito, nos demais dias convive com outras expectativas, como a visita inesperada de um dos seus seis filhos, que já há algum tempo não davam noticias, ou quem sabe um neto, ah, como adorava os seus netos, tinha tanto o que compartilhar com eles, historias para contar, brincadeiras a ensinar, tantas coisas, tantas, também vivia com a expectativa de ganhar na loteria, sim, por mais que não precisasse de dinheiro continuava jogando, já que tudo o que possui hoje foi graças a um premio passado, e por ultimo, vivia com a agoniante expectativa da morte, deste jovem sabia que iria morrer um dia, mas, agora que já estava tão velho, e via que sua morte estava cada vez mais perto, passava a sentir medo, medo de não ter feito tudo o que gostaria de fazer, medo de não ter agido como sempre quis, de não ter cumprido sua missão aqui na terra ou de não ter satisfeito o que as outras pessoas esperavam de si, mas seu maior medo era de morrer e se acabar em nada, ter vivido quase oitenta anos para simplesmente sumir da face da terra e não ir a lugar nenhum, este era seu maior medo, seu grande medo...

A noite, ele logou e La estava a bonitinha1952, não esperou e já foi logo perguntando:

entojado@email.com diz:

- E, aí, já escreveu algo? Como vai nossa historinha?

bonitinha1952@email.com dez:

- Boa noite para o senhor também.

entojado@email.com diz:

- Perdoe-me, é que estou muito apreensivo.

bonitinha1952@email.com diz:

- Ai vai o arquivo, é só aceitar.

Rapidamente o computador de seu entojado recebeu o arquivo que logo foi aberto, para sua surpresa, haviam apenas três palavras escritas que diziam "Era uma vez...", ele se revolta e furioso fala com a bonitinha:

entojado@email.com diz:

- !?! Esta de brincadeira comigo? Passei o dia pensando em uma historia e você só escreveu isso?

bonitinha1952@email.com diz:

- Oras você queria mais o que? Fiz o mais difícil, começar a historia, agora você tem que dar continuidade daí, outra, tudo isso que eu escrevi já me custou muito, alias, nem imagina a dor de torcicolo que tive ao acordar, tive ate que ir à farmácia.

entojado@email.com diz:

- Esperei tanto por isso e agora nada, terei que começar tudo sozinho, ora, por que fui acreditar em você?

bonitinha1952@email.com diz:

- Você faz juz seu nome não é mesmo? ENTOJADO, olha, vou dormir que estou muito cansada e se você se acha assim tão bom faz mais do que eu fiz ate agora, quero ver só se você consegue superar meu gênio literário... xauzinho!!!

E desta forma bonitinha deixa a sala de bate-papo, deixando também seu entojado irado, ele demora alguns minutos para se recompor, mas se acalma, não pode viver tão intensamente por mais que queira, ou não.

Ele analisa a frase, quer dizer o esboço de frase, "Era uma vez...", não era sua intenção escrever um conto de fadas, mas iria respeitar a iniciativa da colega, e começou a escrever, uma coisa que seu entojado tinha era criatividade e iria mostrar a dona bonitinha 1952 do que era capaz.

"Era uma vez, em um lugar impossível de se dizer distante ou perto, pois sua localidade era desconhecida, em um tempo indeterminado, pois o passado e o futuro se cruzam em suas estreitas e largas ruas, um jovem homem velho, com pouco mais de vinte anos, que aparentava sessenta e tinha atitudes de adulto.

Não, ele não era doente, nem foi vitima de magia, ele apenas era um rapaz amargurado com as pessoas que desistira de viver para simplesmente existir, ser mais um na multidão, e em um lugar perdido no tempo e no espaço, suas atitudes influenciam na sua forma física de tal forma que ele apesar de sua idade aparentava tantos anos. Seu nome era Sebastião.

Vivia com seus pais, seu pai era um pintor, tão feliz e realizado que apesar de seus quase setenta anos aparentava dezesseis e era chamado de Cristiano, já sua esposa e mãe de Sebastião, Ágata, tinha quase quarenta, e aparentava os mesmos, já que apesar de feliz e realizada se punha em seu lugar de esposa e mãe, e se manteve em seu tempo. Ambos se preocuparam quando seu filho passou a envelhecer tão rápida e drasticamente.

- Temos que fazer algo Cristiano, logo nosso filho morre e nos estaremos aqui de braços cruzados.

- Sim mulher, sei disso, mas fazer o que?

- Você sabe muito bem o que eu acho que devemos fazer, acho que deveria ir com ele a colina, levá-lo a presença dela, ela pode nos ajudar.

- Acho isso muito precipitado, apelar para isso? Nos que sempre referimos nos distanciar da magia.

- Mas se for o único jeito, fazer o que?

- Vou conversar com ele primeiro, descobrir qual o problema que o aflige. Quem sabe não precisemos ser tão trágicos.

- Esta bem, mas não obtiver resultados, já sabe o que deve fazer.

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