ESCRAVOS
DA URBE
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Leila
de Barros
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Uma certa escravidão percebo na alma das pessoas que seguem as rotinas dos escritórios e se agitam no corre-corre da cidade locomotiva em que tento viver, sem apenas sobreviver. Vejo rostos sonambúlicos nos trens, metrôs, ônibus em seres que deslocam-se de seus lares para os escritórios em transe ou como se participassem de um filme ao estilo Blade Runner. Parece-me que não percebem, mas suas almas estão sendo capturadas, ou antes escravizadas pela ânsia do ter, bem mais do que pelo ser. Ou talvez a crise seja a vilã e com ela tenha vindo a necessidade premente de sobreviver sem sentir. Sobrevida...subvida...é o que noto nesta urbe que tem assumido o papel de um grande polvo, absorvendo com seus tentáculos gigantes cada alma, cada verso, cada peculiaridade. Trabalha-se intensivamente e muitas horas, tanto que quase não há mais espaço para a poesia, a reflexão, o pôr-do-sol. Tudo é literalmente concreto. Os gestos são desprovidos de espontaneidade, tudo é meticulosamente calculado - creio mesmo que até os orgasmos. Há câmeras observadoras espalhadas por toda a parte. Os únicos locais ainda não monitorados são os banheiros. Estariam as pessoas fazendo poesia nesses recintos? Não há tempo, não há abraços e nem bolos de fubá sendo servidos pela vizinha. Nem mesmo são conhecidos os vizinhos. Existem apenas criaturas circunvizinhas que não se cumprimentam ou que rosnam à menor contrariedade. Noto que quase não há mais diferenças entre masculino e feminino. Talvez seja bom, mas é que sinto falta dessas diferenças. Há muito ruído, muitos sons urbanos e um fundo de percurssão ao longe que ecoa sempre atá altas horas da madrugadas, nos finais de semana. Seriam tambores? O silêncio noturno é fonte de medo para as pessoas. Uma certa escravidão cinzenta observo, talvez imperceptível aos olhos urbanos. Há que se desligar todas as câmeras e começar a fazer tolices, como pintar muros, conversar na varanda, tomar chocolate quente com as crianças, soltar pipas, desenlaçar e redescobrir a delicadeza da alma. |
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