Atualização nº 187 - ESCRAVO
BIOGRAFIA
AMOR INCONDICIONAL
Keila Abreu

O elevador parou entre o 18º e o 17º. A luz se apagou. Preso, no escuro e num calor infernal. Ele, contudo, não se abalou. Não por isso. Sentou-se no assoalho e respirou fundo. Dentre todas as coisas acontecidas naquele dia, ficar preso no elevador era somente uma amostra grátis de tudo o que havia de pior. Mariana não havia hesitado um segundo.

"Quero ficar sozinha. Não quero mais você na minha vida."

Palavras incisivas, sem sentimento, sem lágrimas. Como podia ser assim?Ele havia errado? Em quê? Por que ela não dizia nada, não respondia às perguntas? Era somente o fim. Pronto. Aconteceu o pior estava acabado.

E ele ali, entre o desespero e o ridículo, preso no elevador do prédio dela. Sem respostas, sem rumo. Havia mais de sete anos que Mariana era a razão primeira de sua vida. Antes de qualquer decisão que tomasse, era imprescindível saber se Mariana aprovava. Chegava ao absurdo de não sentir-se vivo se ficasse um dia inteiro sem ouvir o frescor daquela voz adocicada. E ela simplesmente dizia que estava acabado.

Ele começou a chorar e logo estava chorando como uma criança perdida na multidão. Perdido ele no meio do nada, trancado numa caixa de aço escura a dezoito andares do chão. Bem que a caixa podia cair e acabar com tudo mesmo. Ao menos se morresse não teria que decidir seu destino dali em diante. Não precisaria saber o que fazer para viver sem Mariana. E ela viveria muito bem sem ele. Talvez vivesse até melhor. Os olhos pretos e maus diziam isso com a mesma força de sua voz.

Agarrou-se aos joelhos e pensou na miserável condição em que estava. Ser escravo não era somente trabalhar sem paga. Ser escravo era deixar, em plena consciência, de viver livremente para si, para viver em função de outra pessoa. Sete anos escravo de Mariana. Ela sequer sabia dessa condição. Mandou-o embora sem delongas. Não o queria mais.

Enxugou suas lágrimas no momento em que alguém gritou do lado de fora que estava consertado. Quando a porta abriu, ele saiu devagar em direção à saída. Alcançando a rua olhou para o alto, mirando a janela de Mariana. "O que faria dali em diante?", pensou sozinho. Agora era procurar outra pessoa que lhe pusesse nos pés novos grilhões. Saiu andando de cabeça baixa, com as duas mãos nos bolsos.

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