Atualização nº 187 - ESCRAVO
BIOGRAFIA
E NA INTIMIDADE...
Doca Ramos Mello

_ Galega, me passa o ..hic...goró, faz favor...

_ Ó, já falei p'ra me chamar pelos meus dois nomes porque fica mais formal.

_ Formol...?! Eu já fiz uma pá de progressiva e...

_ Formal, morzinho, chique. Eu agora uso o botox da Marta, sigo a Glorinha Kalil, tenho passaporte italiano, benhê, ou acha que quando a água bater nas nossas costas vou voltar para o chão de graxa do ABC? É ruim, heim...

_ Tá certo, hic, então me passa a caipirinha aí.

_ Óóóó, o gordo já falou que você bebe muito, te cuida!

_ Que gordo? Não ouvi, não vi, não sei de gordo nenhum.

_ Ah, é bebé? Fala isso de novo na frente da Fiel, ele é o melhor artilheiro das Copas, e agora, corintiano roxo, heim...

_ Isso aí, Galega, nunca antes nesse país...hic!

_ Já sei.

_ Pena que perdemos o hexa, morzinho, já pensou?

_ Ô. Nunca antes nesse país...hic...

_ Já sei, já sei. E foi p'ro brejo. Começo a me preocupar...

_ Passa o goró, minha santa.

_ Minha santa... Já viu o Favre chamar a Marta de minha santa? Isso é coisa de pobre. Será que não dá p'ra você melhorar esse seu jeitão popular? Eu tenho pretensões, não quero apodrecer neste país, quero viver lá na Itália e ter também um castelo na terra do Charles, andar feito a rainha naquela charrete chique, vê se para de me chamar de minha santa, credo!

_ Ceeeerto, madame... O Charles é tão limpinho, hic! E o casamento da Marta sifu, quá quá, quá!!!

_ Acha que a gente emplaca a Dilma...?

_ Que Vilma...? Ah, a Dilma. Não, estou só...hic...disfarçando, vou para a terceira rodada, minha véia.

_ Hic! Véia é a sua...

_ Schsss, olha o protocolo.

_ Você acha que emplaca...urgh, final de caipira é dose, enche o copo aí...

_ Não tem p'ra ninguém.

_ Certeza? Ai, benhê, adoro esse palácio, amo fazer o arraiá aqui, só saio daqui se for para morar lá na Europa, aí você pode bem comprar uma coroa p'ra mim... Se bem que o pessoal vai falar em golpe, vai botar seu nome na boca do sapo... Sapo barbudo, hehehe, hic!

_ Que golpe?! Passa o goró aí e sossega, mulher, sou cabra macho, tenho um baralho inteiro na manga...hic... Que pinga é essa, heim?!

_ Que baralho...?

_ O pobre, galega, esse meu escravo, o pobre, hehehe...hic, hic!
_ Já fui pobre, morzinho, não sei se dá p'ra confiar nessa raça...

_ Dá não, vixi!, mas nesse tipo de pobre dá, sim.

_ Que tipo, e pobre lá tem tipo?

_ Tem, minha véia, graças a Deus, tem o pobre escravo de tudo e que vai morrer pobre escravo da educação ruim, da saúde esculhambada, do desemprego, é nesse que eu confio, 'xa comigo. Vou...hic...criar outras bolsas, galega, ninguém me segura, o pobre me ama e me elege. Pó passá a garrafa aí.

_ Como assim?

_ Olhe, tem pobre que até pode melhorar um pouquinho, assim uma meia dúzia no meio de mil, tem aqueles que nem eu, um em 180 milhões, nunca antes nesse país hou...

_ Chega disso, que saco, já sei, pô! Hummm, boa essa caipirinha... Mais gelo...?

_ O que eu quero dizer é que essa pobreza escrava não acaba nem pode acabar porque a gente dá um jeito de ela ser eterna, é essa pobreza que vai votar em mim sempre, achando que sendo um deles eu venci, então esses bobos me adoram, eu sou o máximo pra eles, hic!

_ Acha mesmo?

_ Como dois e dois são...sete...doze...seis...hic, sei lá!

_ Então, posso encomendar o vermelho da terceira posse.

_ No Walter Rodrigues...?

_ Ah, não, dessa vez, vou ver um estrangeiro bom, quem sabe um costureiro que veste as mulheres do cinema como aquela bocuda, ou a Madonna, quero alguma coisa internacional, bem tchan.

_ Tchan? Sheila Mello, que tchan, hic! Seguuuura o tchan! Nunca antes nesse país...

_ Pára com isso, que saco! Vai se emocionando que eu lhe mostro o tchan, eu durmo com você, eu sei das coisas, alôôuuu, esqueceu? Olhe que eu posso virar uma Nicéia Pita na sua vida, me apoquenta só e tu vai ver o que é bom p'ra tosse, cabra safado!

_ Que isso, "companhêra", hic, brincadeirinha, zuzu bem... Hic, caipirinha da boa essa, me passa o gelo...

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