QUANDO
O MUNDO ACABOU
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Sharon
Ratis
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(Para Zakk, o melhor, in memorian)
Quando o mundo acabou, meu corpo doía tanto que eu não sabia mais onde era o meu começo ou o meu fim. Eu seria, dali por diante, uma massa disforme de dor sem começo nem fim. Quando o mundo acabou, ficou tudo escuro, negro como a asa da graúna. E tive certeza de que o Sol nunca mais voltaria a brilhar. O mundo que acabou era agora o mundo das trevas sem fim. Quando o mundo acabou, fez-se um silêncio doloroso de estourar os tímpanos. Lembrei-me de que o silêncio foi a primeira coisa que existiu e que agora seria a última. Quando o mundo acabou, trouxe com ele o frio dos Pólos, da Sibéria, de todos os lugares do mundo, todos juntos. Um frio desolador para acabar com quaisquer coisas que insistissem em não se acabar com o fim do mundo. Quando o mundo acabou, eu tremia de febre, não de frio. Meu corpo ardia como se anunciando o Inferno em que eu teria de entrar a partir do momento em que o mundo acabou. Quando o mundo acabou, veio a inércia, a vontade de morrer e de me acabar também. Cheguei a saltar de pára-quedas desejando que ele não se abrisse e me livrasse de vez da dor que me consome, mas cheguei ao solo com segurança. Quando o mundo acabou, senti-me enganada. Não houvera nenhum sinal anterior de que o mundo se acabaria naquela tarde e, pior, eu não me acabaria. Então comecei a sondar o porquê de Deus ter desistido de mim e ter me abandonado no momento em que mais confiei e precisei Dele. Foi assim que perdi minha fé na tarde em que o mundo acabou. |
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