A
LUZ ACESA
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Eva
Ibrahim
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O ônibus parou na esquina e Anselmo desceu, indo para casa. Era meia noite, ele chegava da Faculdade e seguia cantarolando; estava contente. Quando chegou ao portão olhou á casa ao lado e reparou que havia luz acesa. "Será que a casa fora alugada?", entrou e foi deitar pensando quem seria o novo vizinho. Há alguns meses a casa estava vazia, os antigos moradores mudaram-se para outra cidade. O aluguel era alto e havia dificuldades para arrumar novo inquilino, por isso estava fechada há tanto tempo. Na noite seguinte havia um automóvel luxuoso parado em frente á casa, o que avivou sua curiosidade. Havia música tocando baixo e a luz acesa, nada mais. Anselmo ouviu o barulho do veículo quando saiu, eram três horas da madrugada. Alguma coisa estranha estava acontecendo ali; no dia seguinte iria descobrir. Chegou do trabalho e perguntou á sua mãe quem era o novo vizinho, ela disse que era uma mulher jovem; a vira de relance. Ficou curioso, queria conhecer a vizinha. Quando chegava
da Faculdade a luz estava acesa, a mulher dormia tarde, pensava o rapaz.
Quem seria? Do que viveria a mulher? Sua mãe disse que era uma
moça bonita e Anselmo ficava imaginando ela sozinha na casa, precisava
conhecê-la. Ele não trabalhava nos finais de semana, era a oportunidade de ver a moça. Levantou cedo e ficou sondando a casa, queria vê-la; olhou por cima do muro e nada viu. O rapaz não saiu de casa e somente ás onze horas ele ouviu o rádio ligado, a moça havia acordado; pudera! Ela dormia muito tarde. Passou o dia sondando a frente e os fundos e não conseguiu vê-la. A noite decidiu sair para dar uma volta e quando fechava o portão viu a moça, seus olhares se cruzaram e ela acenou com a mão; ele estremeceu. Era muito bonita e estava de vestido vermelho, tinha um corpo escultural. Uma morena de fechar o comércio, diria sua avó, se fosse viva é claro. Anselmo não pensava em outra coisa, tinha que se apresentar; era de bom tom o vizinho oferecer seus préstimos á nova moradora. Fazia planos para sua apresentação, seus hormônios estavam fervilhando, quem sabe teria um caso com ela. Já era tarde quando voltou, a luz estava acesa e um silêncio absoluto reinava no local. O automóvel não estava; a moça deveria estar sozinha. Ele pensou em bater á sua porta, mas ficou com medo que tivesse mais alguém lá. Segurou a onda e ficou sondando a casa até a luz apagar, depois foi dormir. Ela estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo, precisava saber seu nome. O rapaz estava impressionado com a moça. Dormiu e sonhou que estava deitado em uma cama com lençóis de cetim vermelho ao lado daquela morena lhe afagando os cabelos e beijando sua boca. De repente a porta abriu e entrou um senhor furioso com uma arma na mão e lhe deu um tiro no peito. Acordou gritando e sua mãe apareceu na porta do quarto perguntando o que foi que aconteceu. O rapaz levantou dizendo que era um pesadelo, nada mais. Tomou água e voltou para a cama, deveria tomar cuidado; poderia ter sido um aviso. Era domingo e ele levantou mais tarde, foi até o quintal tratar o passarinho e aproveitou para espiar sobre o muro. Para sua surpresa a vizinha estava sentada em uma cadeira de balanço, lendo. Ele não resistiu e gritou um "oi" rouco, ela olhou e disse que o dia estava lindo, depois perguntou seu nome. Ele respondeu e perguntou o dela, "Suzana", ela sussurrou. Anselmo ficou meio abobalhado, não sabia o que dizer. O telefone tocou e Susana entrou, deveria ser o velho, pensou o rapaz, mas agora sabia seu nome. Será que o velhote viria buscá-la? Ficaria á espreita, tinha que sondá-la; aquela situação estava ficando séria, será que estava apaixonado? Ás três da tarde o automóvel encostou e o rapaz ficou sondando, queria ver seu rival. Fingiu que estava saindo para provocar um encontro e quando viu o homem ficou pasmo; era jovem, bonito e elegante, não poderia competir com ele. Susana acenou, dando um tchau e entrou no automóvel. Anselmo se jogou na cama, não era justo, o homem tinha tudo e ele nada. Ouviu quando chegaram, eram onze horas da noite. O rapaz entrou e logo saiu; com certeza tinham ido á algum motel e agora voltaria para sua mulher, deixando só a "Teuda e Manteuda". Ele também estava só e com muita raiva, gostaria de poder acabar com ele; daria dez tiros em seu peito, depois pisotearia seu sangue. Era o que merecia aquele aproveitador de mulheres. Anselmo estava muito magoado por ter descoberto que o amante de Susana não era um velhote, o que minou sua chance de conquista. Dava como caso perdido, não pensaria mais nela e seguiria sua vida. Na terça-feira o automóvel estava lá novamente; O rapaz não podia dormir sossegado imaginando aquele homem com as mãos na "sua" Susana. Ficou sondando até ele sair; "Aquilo não era vida, que inferno". Na quinta-feira, quando ia passando para ir dormir ouviu um "oi", olhou e ela o estava chamando; seu coração deu um salto. Susana abriu o portão e ele entrou, sentou no sofá e ela lhe deu uma bebida, que ele tomou de um único gole. Ficaram conversando banalidades; ela era muito mais bonita de perto. Anselmo tomou coragem e perguntou se aquele homem era seu marido e ela começou a rir. Claro que não, era seu irmão, ele passava tarde da noite, porque trabalhava em outra cidade. Seus pais haviam morrido e eles ficaram sós; ela estava fazendo um curso em Portugal e chegara á pouco tempo. O irmão morava em um hotel, estava reformando a antiga casa e por isso ele alugara aquela, para ela ficar até o fim da obra. Era professora e voltaria ás aulas em pouco tempo, gostara dele e queria fazer amigos; precisava de companhia. Anselmo saiu dali pisando nas nuvens, estava feliz, o caminho estava livre; marcara um passeio para sábado á noite. Algo lhe dizia que encontrara o amor de sua vida, não o deixaria escapar. Toda noite quando voltava da Faculdade, Susana estava com a luz acesa esperando por ele para conversar. O irmão foi apresentado á Anselmo e disse estar feliz pela irmã ter encontrado um amigo. Fizera papel de bobo vigiando e sondando uma moça direita, que julgava amante do próprio irmão. As aparências enganam, mas ela morava sozinha naquela casa e recebia visitas noturnas de um homem, o que levantava suspeitas. Ainda bem que foram apenas suspeitas e Anselmo teria muito tempo para se redimir de tão terríveis pensamentos. |
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