OS
DEUSES VOAM II
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Eduardo
Prearo
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Bruna,
a dona na pensão, deve ter uns cinquenta e poucos anos, e pelo
que me contou é viúva de um militar da marinha. Ela veio
do norte muito cedo, com sete anos. A pensão é toda cheia
de enfeites, de móveis com tecidos floridos; tudo meio kitsch.
Ela diz-se católica fervorosa, mas tem um Buda imenso em um canto
da sala. Disse-me que o seu padre favorito morreu de tanto fumar. Sempre
que posso fico conversando com ela sobre coisas fúteis. Há
um poeta no último andar que fica o dia inteiro batendo à
máquina. Eu disse a ela que um dia gostaria de escrever um livro,
mas só pra comprovar a minha falta de cultura e de idéias.
Não, não só. Ela acha meu nome bonito: Hugo, Huguinho.
Inventei que tenho ascendência escocêsa, mas não colou
muito, pois sou frio e seco; por vezes tem um clima assim. Queria ser
fogoso, agitado, mas não descobri isso em mim ainda. Sou quietinho,
falta-me carisma. Todavia, a mentira me fez acreditar que realmente tenho
ascendência escocêsa. Hoje cheguei cedo, ela está na
sala, ela tem uma filha noiva. "Olá,
Hugo, sente-se um pouco. Quer um chá?" "Aceito." "Hum,
você está fedendo cigarro. Deve ter entrado em algum lugar
onde havia fumantes. Eu sei como é. Quando alguém fuma perto
de mim, o cabelo fica com um odor horrível. " "Dona
Bruna, e o chá é de quê?" "Ah,
o chá. É de boldo. Minha intuição me diz que
alguma mudança lhe ocorrerá nos próximos dias". "Infelizmente
não tenho intuição; deve ser porque tenho um lado
malvado. Não sei, mas acho que meu esteriótipo não
é do bem, pois transmito sentimentos deliciosos de incapacidade
para as pessoas. Boa noite". "Boa
noite. Mas você não tem intuição porque não
tem nada de divino, acho que é isso. Ou porque fuma e bebe. Que
horror! Está na sua cara. Como pode uma pessoa ser transparente
para as coisas más. Desculpe a franqueza, mas você me repugna". Amanhece.
Preciso exterminar as saúvas que estão acabando com os pinheiros
de Melani, mas uma de repente me pica e desmaio. Nunca desmaiei. Infelizmente
vou parar em um hospital, em um pronto-socorro. Melani me levou desesperada
em seu Fox preto para um atendimento de emergência. Após
três dias, acordo. "Onde
está Marjorie. Preciso encontrar Marjorie, minha esposa." "Não
entendo, Hugo. Você nunca me disse que foi casado." "Meu
nome não é Hugo, Melani, é Adalto. Lembrei-me de
todo o meu passado. Fui um agente secreto, mas nunca cheguei aos pés
de James Bond. Marjorie Clara, a primeira dama, foi minha esposa. Morri
talvez afogado, não sei, foi tudo forjado pelo governo invisível." "Ah,
ah, ah, James Bond, essa é boa! Se tiver cassino por aqui me avise.
Fique frio, Hugo. Vou chamar a psicóloga e ela conversará
com você. Tenho muito o que fazer. Adeus, e obrigado. Se tem CLT
deveria se afastar do trabalho por uns tempos. As festas desta metrópole
que você considera pequena estão bombando. Não, não,
melhor esquecer do meu conselho de se afastar porque me parece que você
não é do tipo que tenha sorte com médicos, e o governo
detecta malandragens vorazmente; tem a ânsia de punir sem que a
pessoa tenha consciência de que foi punida. Também tenho
essa ânsia; todos nós endinheirados temos. Demos certos,
mas não necessariamente porque somos melindrosos. Sabe, lutamos
muito na vida. E pelo que sei, os italianos, antes romanos que praticavam
atrocidades, sofreram um pouco de intolerância como imigrantes.
Sinto muito. Boa sorte". "É,
tenho ascendência italiana. Mas sou um italiano nortista, e italianos
nortistas correspodem a brasileiros sulistas". "Sulista,
nortista, dá tudo na mesma. Adeus". Três dias em um hospital. E eu que pensei que iria parar em um sanatório, fui parar em um hospital, e por causa de uma picada de saúva, aquelas das grandes. Resolvi que vou escrever um livro mesmo não sabendo escrever. Meu português é fraco, mas há alguma possibilidade remota de o meu livro fazer sucesso. Agora me lembro de todo o passado, meu passado. O futuro é o ideal, o livro; o passado, a memória. Não me desenvolvi: passei pelo tempo e continuo assim. Sinal que minhas reações frente aos caminhos que percorro não provocaram nenhum tipo de mudança em mim. Mas voltarei a falar errado, afinal descubro-me burro a todo momento. Eternamente burro. Quanta maldade pratiquei, e me sinto mal. Talvez eu esteja canceroso. Lembrei-me do psiquiatra, mas não tenho a doença mental gravíssima que ele disse que tenho, pois me acham um preguiçoso e a capacidade laborativa está em ordem. O problema talvez seja encontrar o labor certo para que a capacidade se aflore. Hoje quero morrer. Simplesmente não sei o que vou fazer daqui para frente, estou sem rumo, sem norte, voltei à adolescência. Vou morrer, presinto desgraça. Não, não posso mais assistir à tv, não posso. Levanto-me, vou até o espelho e vejo um monstro. Além de tudo, há a burrice. Não me sinto bem em meu corpo. Pego o cigarro e o acendo. Maledito! Isso contribui para o fim. O ponteiro do relógio não gira; sou eu, eu quem gira. E agora a solidão. Não, não quero conversar com a tal da psicóloga. Ela também pode querer me punir, me testar, e depois dizer que é tudo normal. Vou procurar Patrick, sair daqui imediatamente. Patrick, meu amigo de infância, que deve saber da minha história toda ou não, é um homem fracassado. Mas como ele me reconheceu se tenho agora outra cara? Preciso ir com ele até a capital federal, pra dar um jeito naquele sujeitinho que roubou minha mulher. Sim, e o sujeitinho é justamente o presidente. Que desgraça, quanta desgraça, não aguento mais. Estou com sono de novo. Se ao menos tivesse inteligência! Mas não, sou um idiota-bruto, e há um lado dizendo que não, um lado burro. Virei o tipo que provoca comentários dos homens nas ruas: oh, coitadinho, é calvo, é um ser humano, veado é ser-humano; essa última pegou. Querem me agredir, mas eu, eu jamais agrediria fisicamente alguém, sou medroso, franzino e sem diploma universitário. Mas um medroso idiota não é tão medroso, é um idiota e pronto. Saio pelas ruas, fujo do hospital. Ninguém nota, a enfermeira não notou. Quem nota a não ser para dizer vai direito, hein? Sinto rejeição, sou malandro mesmo. Mas deve haver um lado bom em ser burro. De qualquer forma, mesmo as pessoas mais humildes me rejeitam. O mal-estar que isso provoca em mim é o mesmo em todos os anos, com cabelo ou sem cabelo. Má-aparência. De qualquer forma má-aparência, na minha opinião, não combina com surto, não dá graça a ele. Lembro-me
de que eu e Patrick fomos a uma festa onde havia homens musculosos, mas
estavam dizendo que eles eram gays. Se um daqueles fosse ofendido, teria
mais força do que eu obviamente para agredir. Estou com sono. Bandidos
não surtam, praticam crimes. "Dona
Bruna, fiquei em um hospital porque fui picado por uma saúva. Veja
só. Jardineiro nunca mais. Vou-me embora, viu. Não se preocupe,
vou pagá-la logo. "Jesus,
Jesus, Jesus! Não estou lhe pedindo nada, Hugo! Tenho estado louca
para lhe mostrar umas orquídeas que o velho Mateus me deu, são
vermelhas. " "Não
entendo muito de orquídeas, dona Bruna, apesar de amá-las." "Você
vive se queixando, vive se queixando das coisas. Como não entende
de orquídeas?" "Sim,
confesso que me queixo muito. Mas vou parar de me queixar a partir de
agora. Vou parar de me queixar até mesmo a Deus. Mas, por favor,
não me contrarie nesse aspecto porque sou uma pessoa retrógrada;
não tenho estrutura para ser individualista. A senhora me lembrou
de uma amiga que eu tinha, uma tal de Liz. Essa me criticava sem parar.
Era o tipo de pessoa dona da verdade e que jamais me perdoou, mas não
pelo lembro por causa de que. Talvez se eu escrevesse um livro sobre minha
vida, ele serviria de exemplo. Mas a epigênese, no meu caso, caminha
para o mal, não para a transfiguração". "Pretende
ir para onde?" "Mudar
de cidade. Ir para o sul do país, onde eu era casado com uma mulher
que hoje me tem como morto." "Ah,
sim, e está sem dinheiro. Mas peça a esse seu amigo, Patrick,
quem sabe ele não lhe ajuda. Afinal, vocês dois vão
a muitas festas como bicões, têm afeto um pelo outro." Arrumo
minhas coisas, que minimizo, e saio sem pagar. Patrick está me
esperando na estação. Não vou para o sul, imagine,
vou para a capital federal. Preciso ver Marjorie. Mas na viagem passo
mal. Patrick quis vir comigo, uma benção. Diz que foi meu
amigo de infância, imagine. E foi mesmo, agora me lembro; coincidência.
Ficamos em um hotel cinco estrelas. Patrick tem dinheiro, se bem que acho
que é do pai dele. Não sei por que não me dou muito
bem com as mulheres. Estou cansado. A noite chega, e relaxamos com um
drink no bar do hotel. Há uma música de fundo: For your
eyes only. Preciso ver Marjorie. Patrick me diz que Marjorie frequenta
um spa próximo dali, às segundas; ele soube disso através
de um garçom. Mas ainda é domingo. O ano é regido
pelo Sol, portanto acho que estou ferrado. Não tenho nada de solar,
e um Sol sem aspectos. Eu tinha carisma como Adalto; acho que continuo
tendo, pois os olhinhos puxados e claros atraem olhares. Mas mesmo com
o carisma que tinha, com a máscara do sorriso contínuo,
acho que não dava sorte a ninguém. Chega a segunda, a segunda
de Gabriel, anjo que também diria: pare de se queixar! Ficamos
em um bar defronte do spa. Marjorie chega por volta das oito. Ela tem
seguranças, é óbvio. Está loira e mais extravagante
do que já era. Dou um berro chamando-a e ela me olha, de repente
apavorada. Sim, ela reconheceu a voz. Diz para o segurança me chamar.
O segurança vem até a mim e pede que eu vá falar
com ela. "O
senhor tem uma voz muito parecida com a do falecido. O senhor é
daqui mesmo?" "Marjorie,
sou eu, Adalto. Fiz um plástica. Não morri. Desculpe lhe
falar assim abruptamente." "Você
é um malandro, isso sim. Meu Adalto se suicidou, coitadinho. Uma
punição severa seria interessante no seu caso, por ser assim
arrogante. Deus me deu poder. Mas...eu não acredito. Você
pode ser mesmo Adalto...as mãos...Meu Deus!" Marjorie
desmaia e é levada para dentro do spa; vou junto. Ela acorda do
susto e me olha com um sorriso. Estamos a sós. "Eu
sabia que você não estava morto, Adalto. Intuição
feminina." "É,
é, e olhe como estou diferente. Tive de desaparecer, é uma
longa história. Mas agora talvez seja melhor deixar as coisas como
estão, Marjorie. Você não me amaria mais assim, e
depois tem o seu marido, o presidente." "Adalto,
você é meu marido. E essa sua mudança de semblante
pouco me importa. Eu não era apaixonada pela sua aparência,
mas por outra coisa. Tome meu telefone. Você precisa vir até
minha casa, sei lá, diga que é meu maquiador, qualquer coisa.
Vamos nos ver sempre. Casei-me com o presidente por interesse, única
e simplesmente. Mas não posso mais falar muito porque alguém
pode ouvir." "E
quanto a seus amantes?" "Você
sabe que sou uma mulher insaciável, mas isso já é
meio que coisa do passado. Senti tanto sua falta. Voltei da Europa e de
súbito você não estava mais lá. Nem me deram
a notícia antes. Disseram-me somente onde você estava enterrado
e me deram seu óbito: afogamento. " "Afogamento?" "Não
é melhor do que tabagismo? Não se esqueça: amanhã
as duas da tarde. Estou carente de você. Agora vá senão
vão desconfiar que você é meu amante." "Mas
eu ainda sou seu marido. Eu devia ter ido para a Europa dos leitentos
com você, mas não me deu vontade. Lá o nível
de punição é maior". "Tome,
tome algum dinheiro." "Obrigado". Eu
e Patrick entramos na casa Púrpura por volta da uma da tarde. Marjorie
e o presidente estão almoçando. Ficamos na varando, à
vista dos fotógrafos. Quando o presidente sai, eu e Patrick damos-lhe
cuspidas na cara. O fato sai em todos os jornais do mundo. Somos presos
e torturados. O presidente sanciona um decreto dizendo que o populacho
deve cuspir na nossa cara para o resto da vida. Adalto
retornou do passado por volta das cinco da manhã. Adalto e Patrick
sairam para a rua e a marcação parecia haver diminuido por
causa dos palestinos. "Idiotas
cospem no nosso presidente, o Nobel da Paz, e tem gente que se esquece
disso. Vocês vão apodrecer no inferno, seus malandros".
É,
os palestinos não falaram nada de Adalto e Patrick em suas entrevistas,
o que revoltava o populacho desconhecido. O pai de Patrick, mesmo milionário,
nada podia fazer para livrar o filho daquela situação, o
que era uma novidade em se tratando de Brasil. Adalto foi para um lado,
e Patrick para outro. Ambos os dois desejaram a cada um boa sorte. Eles
eram mesmo amigos; tinham o tipo de amizade que se via mais entre mulheres.
Adalto correu de um menininho de cinco anos que queria cuspir nele, e
então avistou então um circo. Era um circo belíssimo,
vermelho e amarelho, grandioso. Adalto foi se aproximando devagar dos
traillers quando um homem forte, vestido de domador de leões, cutucou-lhe
o ombro. "O
que deseja aqui, Adalto? Não, não vou lhe dar uma cuspida.
Estamos precisando de gente para trabalhar com os leões. Eu trouxe
uns novinhos em folha, não adestrados, da Índia." "Mas
eu não quero educar leões, quero que o senhor nos ajude
a sair daqui. "Eu
conheço Sangri-lá, no Tibet. Eu poderia levá-los
até lá, tenho meios. Mas com vocês na condição
de fugitivos, as coisas por aqui ficariam meio pesadas para todos nós.
Haveria um impostor, um traidor, um Judas Iscariotes, e qualquer um de
nós, seres considerados decentes, que deram certo na vida, poderia
ser preso ou então morto. Todavia, eu quero arriscar." "E
como seria a fuga?" "Deixe
por minha conta. Agora é melhor voltar para o presídio,
Adalto. Olhe, tenho um dinheirinho para você. Diga que ajudou algum
pedreiro, invente um nome. Eles demoram uns trinta dias para descobrirem
o nome de quem os ajudou, normalmente. Até lá, vocês
já estarão em Shangri-lá. O campo desabitado, aquele
pequeno deserto na zona sul, você sabe? É para lá
que deverão estar ao meio-dia de amanhã. Eu vou lhes dar
um disfarce, sou mestre em disfarces." Amanheceu.
Adalto contou o plano para Patrick e este ficou ansioso, não acreditou,
mas como um homem perdido se agarra tudo, resolveu topar. Eles se disfarçaram
dentro de um hospital. Faltavam vinte e cinco para o meio-dia e eles já
estavam disfarçados, ninguém os reconheceu. Pensaram que
os dois marginais foram até o hospiral e lá os detiveram
com alguma dose cavalar de antipsicótico. Patrick e Adalto tomaram
um táxi. Estavam vestidos de mulher. Logo Adalto se viu em um bi-motor.
A viagem será longa, disse-lhes o piloto. "A viagem será
longa para as donzelas", completou, sorrindo. Atravessaram o Oceano
Índico. A viagem durou dois dias; houvera cinco pousos para reabastecimento.
Chegaram a uma cidade, um carro os esperava. Seria mais uma viagem longa
de quinhentos quilômetros, e também haveria uma outra viagem
a pé até Shangri-lá. Mas tudo dera certo: a ânsia
de escapulir de um pesadelo fez com que o tempo quase inexistisse. Sangri-lá
pareceu assustadoramente bela aos dois fugitivos. Quando entraram nela,
por uma porta de bronze, os habitantes de lá, bem mais jovens do
que eles, e na maioria orientais, os receberam com presentes e abraços.
Disseram-lhes que ali seria o lar deles até que a poeira toda baixasse.
Adalto olhou para as cachoerias, para os abismos, e ficou pensando o que
era a vida; ficou pensando que aquela cidade, Sangri-lá, não
existira somente na imaginação de um escritor, mas era real.
Adalto dormiu cinquenta e duas horas ininterruptas. Acordou de noite;
Patrick jazia como um defunto. Estaria morto? Conway, o grande lama, entrou
no quarto e disse: "Estive
sondando sua vida. Me pareceu você meio malandro. Infelizmente aqui
o senhor não poderá ficar. Mesmo aqui sabem quem é
o senhor e o que andou aprontando." "Patrick
parece morto. Mas então terei de voltar ao Brasil?" "Sim.
O FBI está a sua procura. Adalto,
após muitos dias, voltou ao presídio, e J. estava lá,
esperando-o. Também o esperava o travesseiro de pena de ganso.
Adalto resolveu que não sairia mais. J. estava mais maleável,
assim como o populacho desconhecido. Adalto ficou surpreso, mas de qualquer
forma ainda havia outdoors e sua imagem aparecia na tv a cada dez minutos.
Em um dia ensolarado de abril, Adalto recebeu uma carta de Marjorie. Ela
marcou um encontro em um parque. Ela dizia que estaria disfarçada.
Era carta de Marjorie, ele tinha certeza, apesar de não estar assinada.
Amanheceu e Adalto foi ao encontro. Marjorie estava disfarçada
de freira. "Que
bom que veio, Adalto. Que bom. Deixe-me ver suas mãos. Mudaram
as impressões digitais também?" "Mas
é claro, Marjorie." "Então
não há como provar que fomos marido e mulher." "Preciso
falar com Medéia." "Quem?" "A
mulher para o qual eu trabalhava como agente." "Diga-me
o que posso fazer." "Conte
a Medéia a situação. Podemos fugir, não sei." Sim,
três dias depois de Adalto ter falado com Marjorie, esta lhe enviou
um outro bilhete marcando um novo encontro. Medéia era rápida.
Medéia preparara um plano de fuga. Ele e Marjorie iriam fugir em
uma lancha e de repente a lancha explodiria. Quando deu na tv que a primeira
dama estava fugindo com o maquiador que cuspira no presidente, a nação
ficou chocada. E um pouco menos chocada quando soube que a lancha onde
estavam explodiu sem deixar vestígios. Sim, havia alguns vestígios...mas
a organização era competente. "Adalto,
creio que agora vamos ser realmente felizes. E essa sua nova plástica
fez com que você realmente lembrasse mais meu Adalto." "Meu
amor, você foi primeira dama. Primeira dama. Sabe que nem acredito!" "E
deixei um presidente viúvo. Mas dizem que ele já está
se casando, veja só. Meu dedo mindinho se foi. Tinha de haver uma
prova, não é, uma prova de que eu realmente morri." "Que
tal irmos a um restaurante?" "Ah,
vai, vai. Como você captou meu pensamento?" "Descobri
um restaurante excelente aqui em Casablanca. " Não
havia muita gente no restaurante; havia um pianista. Marjorie olhou pela
janela e viu algo voando no céu. Havia um televisor ligado no restaurante
e Marjorie quase desmaiou quando ouviu a notícia: EX-MULHER DE
PRESIDENTE, QUE FUGIU COM ADALTO, ESTAVA AIDÉTICA. PRESIDENTE FICOU
CONSTRANGIDO AO MOSTRAR SEU TESTE ANTI-HIV PARA A NAÇÃO,
NATURALMENTE NEGATIVO, E DISSE QUE SUA EX-MULHER MERECEU MORRER. "Estou
vendo algo voando. Que absurdo. E parece a fada Sininho." "É
algum deus." "Pode
ser, meu amor. Você mesmo sempre diz que os deuses voam. Mas será
que estou com aids? Acho que não, que foi tudo planejado por M.,
pela organização, é claro. " "Marjorie,
meu amor por você é incondicional, independe de qualquer
doença". "Eu
te amo". "Eu
também. A organização caprichou na sua plástica
também." "É,
fiquei mais leitenta e pedi pra me deixarem parecida com Maria Antonieta." "Eu
quero aprender a ser melindroso. A organização quer que
trabalhemos juntos, e você até já tem um número". "Ah
é?" Fim "Qualquer
semelhança com histórias reais terá sido mera coincidência". |
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