ARITMÉTICA
DO AMOR
|
|
Mark
Brunkow
|
|
Toca
o telefone. - Alô? - Oi,
Arnaldo - com um tom azedo. - Oi
querida, tudo bem? - intrigado. - Na
verdade não, Arnaldo Antônio Gusmão! Precisamos conversar
e sério! Ele pensa,
- Nome completo, xiiii, lá vem bobagem... - O que
foi agora querida? - Não
me venha com querida Arnaldo. Já faz nove anos que você me
enrola, entre namoro e noivado, agora já chega, você decide
se casa ou compra uma bicicleta! - Casa
ou compra uma bicicleta? Já vi que tem o dedo da coruja velha na
história. - Não
fale assim de minha mãe Arnaldo! Mas, realmente conversei com ela
e decidi dar um basta nesta nossa mal fadada história, ou você
casa ou esta tudo acabado. - chorando. - Calma
querida, vamos conversar... - ouve a batida do telefone. Sentado
em sua poltrona abre uma lata de cerveja e se entrega a seus pensamentos. Velha
dos infernos mesmo, sempre se metendo. - da um gole na cerveja. Estava
tudo bem, a Claudia já não falava em casamento fazia um
bom tempo. Mas a jararaca tinha que meter o bedelho. Pensando bem, foi
até bom. Agora posso me dedicar e dar mais atenção
as minhas "pombinhas". A Aninha da padaria, que boca. A "polaquinha"
do escritório de contabilidade, que seios. A "Sandrinha"
do 301, que bunda. - da um longo gole na cerveja. É, mas a Claudia
eu conheci com quinze aninhos. Ela é inteligente, bonita e tem
um corpaço. O problema é aquela velha louca da mãe
dela. - da outro gole na latinha que esta quase vazia. É, mas já
tenho trintecinco anos, esta na hora de sossegar, e no mais tem o carro
que quero comprar e só com o meu salário não dá.
- da o último gole na cerveja. Tenho que pensar de forma clara
e racional neste assunto. Levanta
vai até a geladeira a apanha outra lata de cerveja. Senta novamente
na poltrona abre a latinha, da um longo gole e volta aos seus pensamentos. O que
vou ganhar e o que vou perder casando? - da um gole na cerveja. Em relação
à "mulherada" não vai mudar muita coisa, pois
mesmo casado vou poder continuar dando minhas escapadas, ponto positivo.
Terei roupa lavada, comida e a Claudia sempre em casa quando chegar do
serviço, mais um ponto a favor. Por outro lado perderei minha liberdade
de chegar à hora que quiser sem dar satisfação a
ninguém, ponto negativo. Mas em compensação não
terei que aturar aquela velha coruja, nem mesmo olhar para cara dela,
talvez aos domingos, mas isto eu agüento. - da outro gole na cerveja.
E tem é claro a questão financeira, que é aritmética,
matemática pura. Eu ganho
R$ 1200,00 reais limpo por mês, a Claudia ganha R$ 1600,00 reais
limpo por mês o que dá R$ 2800,00 reais. De aluguel iremos
gastar uns R$ 700, 00 reais. De Água, luz e telefone mais uns R$
300,00 reais. O meu carro novo, popular, mas zerinho, mais R$ 800,00 reais.
Sobrarão R$ 1000,00 reais para gastarmos no mês. - da um
longo gole na cerveja. Como eu nunca pensei nisto antes, como sou burro!
- termina com o restante de cerveja da lata. Pega
o telefone apressado e liga para a noiva. - Alô? - Com
quem gostaria de falar? - com voz de desdém por ter reconhecido
o futuro genro. - Oi
dona Solange. A Claudia está? - Não
deveria, mas vou chamar. - Alô.
- com voz de quem estava chorando. - Oi,
amor! Você não me deixou falar. - E o
que você tem para me dizer Arnaldo Antônio Gusmão. - Amor,
não fala assim. Você sabe que eu te amo. Sem você eu
não vivo. Parece que falta um pedaço de mim. Quando você
disse que estava tudo acabado foi como se o chão sumisse de baixo
de meus pés. Se você algum dia fizer isto eu acho que morro. - Eu
sei amor, mas eu não agüento mais viver longe de você.
Eu quero casar ter nossa casinha, nossas coisas. - Você
esta certa amor! Pensei muito a respeito de tudo e cheguei à mesma
conclusão que você. Esta na hora da gente juntar nossos trapinhos.
É só você marcar a data que nós casamos. Se
quiser vamos agora mesmo ao cartório. - Arnaldo
não brinca. Você esta falando sério? - Dou
minha palavra de honra. Querida, homem que é homem quando empenha
sua palavra não volta atrás. - Ai,
amor que felicidade. Você me fez a mulher mais feliz do mundo! - Eu
sei amor. Então quando vai ser, amanhã? - Calma,
querido. Vamos fazer as coisas direito. Vou mandar fazer o vestido de
noiva, falar com o padre, ver a decoração da igreja, mandar
fazer os convites do casamento, a lista de convidados que serão
muitos, as damas de hon... - Mas
querida, isto não vai ficar muito caro? - Não se preocupe querido. É tudo uma questão matemática. Aritmética pura. Já fiz todas as contas e com o que eu ganho mais o que você ganha não teremos problemas para pagar. Talvez nos apertemos um pouco no primeiro ano de casado, mas isto não se compara a nossa felicidade, não é mesmo amor. |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor
|