Atualização 185 - Tema Livre
BIOGRAFIA
O BALÃO AZUL
Gabriela Domiciano

Meu amor é um balão azul. Meu não, esse pronome é muito possessivo. Não é vermelho, cor comumente atribuída ao amor, é azul, prefiro azul. Não tem o formato óbvio de coração, é um balão simples e comum. Ganhei-o, certa vez, de um palhaço bobo, desavisado e sorridente. Incrédula, aceitei. Levei o balão comigo. Mas o que se faz com um balão? Para que serve um balão? Nunca tinha tido um balão azul antes. Costumava andar com ele por aí. Via, através dele, o mundo todo azulado e sorria fácil. Maldosamente, em segredo, disseram-me que os balões amarelos e magentas são mais bonitos. Teimosa continuei querendo o azul. Nessa altura, já o cercava de cuidados, desajeitadamente é verdade, a fim de preservá-lo. Porém ele parecia almejar outros horizontes. Ingrato balão azul! Cogitei trancá-lo em um cômodo escuro e sem janelas. Só que, dessa forma, ele se esvaziaria ou estouraria. Não desejava viver dos restos de um balão azul. Então o soltei, o vento carregou o balão azul. Foi subindo, subindo, diminuindo, diminuindo, até fundir seu azul ao céu. De repente, percebi surpresa, o balão azul era todo o céu, não diminuíra, havia se inflado à enormes proporções, estava em toda parte, bastava olhar para o alto. Sorri fácil novamente: amor é a liberdade de uma amplidão azul.

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