ENCONTRO
MARCADO
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Flávio
Martins
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(livremente inspirado no poema Anônimo de Ana Cristina César) Desceu rápido
a Tupinambás e tomou a Bahia sem nem olhar pra trás. Estava
decidida. Iria ver um filme, qualquer que fosse. Precisava mesmo era espairecer.
A briga fora muito séria. Porque ele tinha feito aquilo? Ela o
queria como homem, ele a queria como amante. Mas brigaram, brigaram feio
no Parque Municipal. Ela se sentiu só e desesperada saiu correndo
deixando-o no parque. Ela andava à toa e queria ver um filme. Era
assim, amava cinema embora não soubesse nada além das estórias
por trás da tela. Gostava mesmo era de um prazer momentâneo.Espairecer. - Onde tem um cinema
por aqui? Perguntou a um transeunte que distribuía santinho do
Valdivino do bordéu. O homem apontou em uma direção
desconfiado. Ela entrou pelo corredor rápida e ofegante. Passou
em frente a escritórios de contabilidade e a um cartório.
Viu o cinema e sem nem mesmo perguntar o nome do filme comprou um ingresso
do velho que estava à portaria. Entrou e assentou-se
numa das ultimas fileiras. O filme já tinha começado. Na
outra ponta da fileira um homem assentado. Não via o filme,
pois estava vazia de si mesma, mas sabia que era de má qualidade.
- Que me importa qualidade se a solidão me consome? Indagou a si
mesma. Qualquer filme servia. Atentou-se ao filme e ouviu um casal à sua frente gemer. Nem se importavam com as outras pessoas. Enquanto se consumiam noa pornografia, Cicciolina se contorcia de prazer com Rocco. O telefone vermelho. Era esse o nome do filme. Não deu importância ao fato, mas notou que chorava. O homem na sua fileira
parecendo ver, se aproximou. Ela sentindo, permitiu e ele a abraçou
carinhosamente. Ela retribuiu como se precisasse proteção.
Ela sabia que o filme não importava, e se amanteigava nos braços
dele. Ela sentia que o cinema cheirava a desinfetante barato. Teve náusea.
Ela chora mais ainda e ele a aperta junto dele. Ela aceita reconhecendo
o perfume dele e se acariciam por longos minutos. (...) O desejo escorre pra
fora dela. Estão arfantes e suados quando os créditos sobem
na telona enquanto ela se sente mais mulher, mais confiante. Levantam-se e saem
do cinema abraçados e calados. Junto deles saem outras pessoas
que não se conhecem na penumbra. Velhos, noivos, negros, albinos,
açougueiros e gordos. Trombadinhas e morféticos. Todos viram
o mesmo filme. Todos pulsando de desejo. Ao chegar fora do cinema vê
pela primeira vez o rosto do homem. Era ele. Ele mesmo. O amante do parque.
Sorriem e ela diz
enquanto caminham: -Preciso tomar um
sorvete. Atrás deles, em azul e vermelho brilha a placa do Cine Regina. |
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