Atualização 185 - Tema Livre
BIOGRAFIA
ENCONTRO MARCADO
Flávio Martins

(livremente inspirado no poema Anônimo de Ana Cristina César)

Desceu rápido a Tupinambás e tomou a Bahia sem nem olhar pra trás. Estava decidida. Iria ver um filme, qualquer que fosse. Precisava mesmo era espairecer. A briga fora muito séria. Porque ele tinha feito aquilo? Ela o queria como homem, ele a queria como amante. Mas brigaram, brigaram feio no Parque Municipal. Ela se sentiu só e desesperada saiu correndo deixando-o no parque. Ela andava à toa e queria ver um filme. Era assim, amava cinema embora não soubesse nada além das estórias por trás da tela. Gostava mesmo era de um prazer momentâneo.Espairecer.

- Onde tem um cinema por aqui? Perguntou a um transeunte que distribuía santinho do Valdivino do bordéu. O homem apontou em uma direção desconfiado. Ela entrou pelo corredor rápida e ofegante. Passou em frente a escritórios de contabilidade e a um cartório. Viu o cinema e sem nem mesmo perguntar o nome do filme comprou um ingresso do velho que estava à portaria.

Entrou e assentou-se numa das ultimas fileiras. O filme já tinha começado. Na outra ponta da fileira um homem assentado.

Não via o filme, pois estava vazia de si mesma, mas sabia que era de má qualidade. - Que me importa qualidade se a solidão me consome? Indagou a si mesma. Qualquer filme servia.

Atentou-se ao filme e ouviu um casal à sua frente gemer. Nem se importavam com as outras pessoas. Enquanto se consumiam noa pornografia, Cicciolina se contorcia de prazer com Rocco. O telefone vermelho. Era esse o nome do filme. Não deu importância ao fato, mas notou que chorava.

O homem na sua fileira parecendo ver, se aproximou. Ela sentindo, permitiu e ele a abraçou carinhosamente. Ela retribuiu como se precisasse proteção. Ela sabia que o filme não importava, e se amanteigava nos braços dele. Ela sentia que o cinema cheirava a desinfetante barato. Teve náusea. Ela chora mais ainda e ele a aperta junto dele. Ela aceita reconhecendo o perfume dele e se acariciam por longos minutos. (...)

O desejo escorre pra fora dela. Estão arfantes e suados quando os créditos sobem na telona enquanto ela se sente mais mulher, mais confiante.

Levantam-se e saem do cinema abraçados e calados. Junto deles saem outras pessoas que não se conhecem na penumbra. Velhos, noivos, negros, albinos, açougueiros e gordos. Trombadinhas e morféticos. Todos viram o mesmo filme. Todos pulsando de desejo. Ao chegar fora do cinema vê pela primeira vez o rosto do homem. Era ele. Ele mesmo. O amante do parque.

Sorriem e ela diz enquanto caminham:

-Preciso tomar um sorvete.

Atrás deles, em azul e vermelho brilha a placa do Cine Regina.

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