CONTO
DE NATAL
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Valéria
Vanda de Xavier Nunes
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A
chegada do mês de dezembro prenunciando o dia de natal era sempre
motivo de preocupação para aquele pai que queria fazer seus
doze filhos felizes. Como tinha poucos recursos, tornava-se muito difícil
para ele realizar os desejos de cada um. Mas, mesmo vivendo humildemente,
aquela família sempre procurava comemorar e viver plenamente o
natal. A
adolescente queria ganhar seu primeiro sapato de "saltinho alto".Vivia
sonhando com a primeira vez em que o usaria. No mês de dezembro,
o pai das crianças as chamava e colocava-as uma a uma em cima de
uma mesa para tirar-lhes as medidas dos pés em uma tirinha de papel
onde colocava o nome de cada uma. Com muito sacrifício, dava um
jeito de ir à capital, Recife, e lá procurava comprar para
elas a roupinha e o sapato para serem usados na noite de Natal. Na casa,
após a sua partida, as crianças ansiavam pela sua volta,
pois além dos sapatinhos era certo que mais alguma coisa viria.
Acreditava-se em Papai-Noel, e o pai sempre dava um jeito de esconder
os presentinhos extras para colocá-los em cima do sapato de cada
um ao lado de suas caminhas na noite de Natal. Passados alguns dias, ouvia-se um assobio na calçada. Era o aviso que o pai estava de volta e com ele voltava também a alegria das crianças. Todos corriam para rodeá-lo, abraçá-lo e dar-lhe as boas vindas. Estavam todos eufóricos com a sua chegada. Apenas ela ficara ali, encostada à parede, quieta. A ansiedade era demais. Na azáfama da entrega dos sapatos, ela permanecia ali, parada, um pouco afastada dos demais, mal respirando, na expectativa de ver a tão sonhada caixa. Seu pai levantou-se, aproximou-se dela e lhe entregou uma caixa um pouco maior que as outras. Ela a recebeu e com dedos trêmulos começou a abrir a caixa. Que emoção! Que alegria!. Já dava pra vê-lo ali, dentro da caixa enrolado em papel de seda amassado. O brilho do verniz preto já era visível. Que
alegria! Estava ali, em suas mãos o tão sonhado sapato de
salto, preto, de verniz e com um laçinho em cima. O natal chegou. O cheiro das comidas preparadas para a ceia já podia ser sentido pela casa inteira. A
árvore simples mas toda enfeitada, piscava sem parar para a alegrias
das crianças. Aquele seria um natal como nunca houvera para ela.
Preparou-se para passear com suas amiguinhas e estrear o seu lindo sapatinho
de salto alto, a felicidade estampada no rosto. No entanto, a volta para
casa transcorreu em meio a maior das tristezas. O salto do seu lindo sapatinho
havia ficado preso em um buraco na calçada, e o pior aconteceu.
O seu lindo sapatinho estava sem o salto. Voltou para casa aos prantos,
com o salto do sapato na mão, sabendo para desespero seu que o
outro dia era feriado e que não teria quem o consertasse. Dormiu
aquela noite de olhos inchados de tanto chorar. O
dia amanheceu , mas não como todos os outros... Com
ele um milagre de natal acontecia naquele minúsculo quartinho.
Milagre dos milagres! O seu sapato estava lá, juntinho um do outro,
totalmente consertado, novinho, como num passe de mágica. Ah! Meu
Deus! Quem teria feito aquilo? Milagres não acontecem... Só
se fosse um milagre de natal - pensava a menina. Só podia ter sido
ele, o seu pai. Foi o que ela pensou logo a seguir e acertou. O seu pai,
como todo aquele que ama seus filhos e quer vê-los felizes no dia
de natal, saiu logo cedinho, foi à casa de um amigo sapateiro e
pediu-lhe que consertasse o sapato de sua filha. E sem dúvida, este foi o melhor presente de natal para ela. |
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