O
MELHOR PRESENTE
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Ken
Scofield
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Salário
atrasado, marido desempregado, filha sonhando com um presente impossível.
Esse era um momento dos mais difíceis na vida de Catarina. Era
um martírio notar o brilho tão grande nos olhos de sua filhinha
de 8 anos, cheia de esperanças de ganhar sua tão sonhada
bicicleta, que escrevia a cartinha que era endereçada a papai Noel: -Dessa
vez ele irá me atender, das outras não sabia escrever nadinha,
por isso que não tinha como ele comprar meu presente, mas agora
sei que ganharei minha bicicleta. Seu
pai ouvia tudo isso quase chorando por dentro. Havia sido demitido há
poucos dias, retrato da crise internacional que obrigou reduzir o pessoal
de um monte de empresas. Ele foi só mais uma dentre tantas outras
vítimas. Pedia a Deus descobrir uma forma de poder dar aquele presente.
Chegou até a pensar besteira, mas lembrou o que ensinava sua velha
mãe quando viva: -Quem
é digno não toma nada do que é dos outros. Por
outro lado Catarina vivia a esperança de ainda receber pelo menos
um de seus 5 meses de salário a que tinha direito. Cochilando em
frente à televisão não ouvia a reportagem que passava
naquele momento. Arnaldo, seu marido cuidava de desligar a TV e usando-se
de seus músculos e agora com um generoso sorriso em seu rosto a
levava nos braços até seu quarto. Cinthia, sua filhinha
já dormia há algumas horas. Nem sentia quando seu pai dava
um amoroso beijo de boa noite em sua cabeça enquanto dizia: -Agora
já sei filhinha, você terá sua bicicleta, se Deus
quiser. Dias
depois Catarina se queixava que Arnaldo sempre se ausentava no fim da
tarde e nunca se justificava de maneira plausível. Começou
a se preocupar fortemente, vigiava cada ligação que ele
recebia e isso foi aumentando até que resolveu segui-lo até
se surpreender onde ele entrava: -Correio?
O que ele vem fazer todos os dias aqui? Será que se envolveu com
alguma mulher que trabalha aqui? Eu mataria os dois. Esperava
do lado de fora e notava que seu marido saía de cabeça baixa.
O mesmo se repetia por mais uns 5 dias, até que ao contrário,
agora ele saía com um sorriso largo no rosto, parecia que iria
pular de alegria. Isso deixou Catarina preocupada, mas como sempre não
deixava se mostrar de onde observava. Chegava
então o dia de natal, Catarina começava a se irritar com
a felicidade estampada na cara de seu marido até que puxava-o pelo
braço e dizia: -Diga
logo porque você está tão sorridente, seu safado.
Tem outra mulher né? E ela paga as contas pra você? Será
que você nem nota que bem em breve sua filhinha vai chorar muito
porque o pedido dela não foi atendido? Nesse
momento podia se ouvir uma música de natal que anunciava a chegada
de uma van que trazia só alegria. Então Arnaldo dizia: -Ele
chegou, ele chegou... -Ele
quem? Perguntava
sem entender nada Catarina. -O
papai Noel, ainda existe pessoas boas no mundo, alguém pegou a
cartinha da minha filha que colei lá nos correios junto a tantas
outras. Agora o "papai Noel" veio entregar, nossa filha vai
ganhar a tão sonhada bicicleta dela. Catarina
depois de processar as informações em sua cabeça
pensava: Aquela
criança de 8 anos agora dizia com toda autoridade: Tão
vendo? Eu não falei? Era por isso, eu não sabia escrever
direito, aí papai Noel num tinha como dar meu presente, agora não,
ele entendeu e trouxe o presente certinho pra mim. Sua
mãe, chorando muito dizia olhando pro céu: -Desculpa meu Deus por duvidar de um homem tão bom, e obrigada também, não tem nada melhor que ver essa menina tão feliz assim. |
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