Atualização 184 - Minicontos de natal
BIOGRAFIA
OS SAPATINHOS VERMELHOS
Cris Dakinis

Era um sábado de antevéspera de Natal. Célia estava com suas mãos suadas de estarem unidas às de sua mãe por bastante tempo. Caminhavam por uma rua repleta de lojas e de pessoas carregando sacolas. Todas pareciam muito apressadas com as compras de presentes. Fazia um calor excessivo, e a única vontade da menina era descansar, beber refresco e comer pastel.

__ Mãe, estou com fome e meus pés estão doendo!

__ Celinha, lancharemos logo __ respondeu-lhe a mãe __ Daqui a alguns dias Papai Noel estará chegando, mas esse ano você não me mostrou sua cartinha. Não escreveu ainda?

__ Ora! Eu já tenho 10 anos, mãe! Não acredito mais em Papai Noel... Isso é mentira inventada para as criancinhas. Eu sei que ele não existe...

Entraram em uma sapataria, e Célia avistou um par de sapatinhos vermelhos e lustrosos com presilha e laço feito do mesmo material envernizado. Mais que depressa, ela apontou para seu objeto de desejo: __ Mãe, que lindo, olha! Eu quero!

Sua mãe lembrou-lhe que já haviam comprado tudo de que precisavam. Estavam ali para adquirir o último presente da lista: um par de chinelos para o vovô. E não adiantava a menina insistir, pois todo o dinheiro já fora gasto, restando-lhes, somente, o do lanche.

Célia já escolhera seu presente e não conseguia encontrar argumentos que pudesse convencer sua mãe a lhe comprar os sapatinhos vermelhos. Pensou em escrever uma cartinha para Papai Noel, mas a idéia parecia ridícula.

__ Vamos lanchar? Perguntou-lhe a mãe?

__ Até que enfim! __ Respondeu a menina __ Mãe... Você ainda acredita em Papai Noel?

__ Acredito, sim, ora!

__ Mas você já é crescida, você é adulta!

A mãe riu e explicou: __ Sim, sou adulta, mas acredito em Papai Noel e acredito na magia da Noite de Natal. Não é maravilhoso quando nossa família se reúne para a ceia, e você brinca com seus primos? Falando nisso... Amanhã, levaremos ao orfanato os brinquedos que separamos para as crianças. Você adora quando vamos lá, hein? A noite de Natal dessas crianças também é muito especial!

__ Mas mãe... Meus amigos já me contaram que não existe Papai Noel algum... São os pais quem compram os presentes e os colocam debaixo da árvore de Natal.

__ E você acreditou nisso?

Célia parou de mastigar o pastel e fitou a mãe. Menos de um minuto de silêncio...

__ Ele existe mesmo? __ Indagou a menina.

__ Filha, ele existe para quem acredita. Seus amigos estão certos quando dizem que os pais compram presentes para os filhos. Mas você já reparou, que há sempre presentinhos num cantinho debaixo da árvore, que são verdadeiras surpresas, mas que nos fazem muito felizes?

__ Sim, é verdade! Mas mãe, então... Esses pacotinhos com surpresas que encontramos... É o Papai Noel quem traz?

__ Mas claro!

Célia olhou, desconfiadamente, para a mãe, que conteve o riso.
__ Pois vou experimentar... Escreverei uma cartinha-segredo a ele, pedindo uma surpresa que quero ganhar e não contarei a ninguém o que é. Se eu não encontrar o presente debaixo da árvore, após meia-noite, é porque Papai Noel não existe!

__ Filha, encontrar presentes debaixo da árvore de Natal depende de você acreditar que ele exista e de fazer algo para que outras crianças possam ter essa felicidade também. É preciso, ainda, que você mereça e, finalmente, que Papai Noel possa dar o presente a você...

__ Mas eu passei de ano! E... mãe... Eu acredito em Papai Noel, sim! Mas não conta pros meus amigos, não, tá?

A mãe concordou em manter o segredo e rumaram para casa.

Na noite de Natal, em casa de Célia, todos festejavam. Parentes que moravam longe e há muito não se viam, conversavam animadamente. As crianças pareciam tão crescidas! A ceia estava deliciosa, a casa enfeitada, a família feliz. Célia distraíra-se de seu pedido de Natal na cartinha que escrevera, quando ouviu seus avós anunciarem: "Feliz Natal! É meia noite!". Todos se abraçaram. O avô fez questão de, em breve discurso, lembrar a importância da daquela data festiva; a família reunida... As crianças foram as primeiras a correr para os presentes e, impacientes, rasgavam as embalagens. Célia ganhou a boneca que tanto queria. Após verificar os embrulhos menores, leu seu nome escrito num pacote com esta frase: "De Papai Noel para Célia". Abriu a caixa e descobriu seu pedido da cartinha-segredo atendido: os sapatinhos vermelhos! E lhe couberam perfeitamente!

Célia foi para cama, abraçada aos sapatinhos vermelhos, e com eles adormeceu. Seus pais sentiram dó de tirá-los de seus braços. Sorriram ao ver a felicidade inocente estampada no rosto da filha e desejaram, que no futuro, ela perpetuasse com seus próprios filhos aquela magia em cada noite de Natal.

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