Tema 183 - Besteirinhas
BIOGRAFIA
QUE BESTEIRA!
Eva Ibrahim

As mulheres saíram rindo alto em gargalhadas, deixando atrás de si um homem irado; ele não agüentava mais; Vitório, o dono da casa, não se conformava com aquela situação, no mínimo era abuso o que estava acontecendo. Tudo começou com uma novena que as beatas da Matriz fizeram em louvor á Nossa Senhora. O grupo de senhoras levava a imagem da Santa á casa de um paroquiano e durante nove dias, á noite, rezavam o terço para a virgem. O casal ficou contente quando foi escolhido á participar. Eram tementes á Deus, a casa estava aberta para receber Nossa Senhora.

Durante nove noites houve reza naquela casa e Vitório ficou aliviado quando acabou; gostava de sossego e aquelas mulheres já estavam incomodando. Mas o que ele não sabia é que a mulher fizera amizade com três beatas; como dona Rosa não saia de casa elas passaram a visitar a nova amiga.

O casal de comerciantes era conhecido na pequena cidade; ele, homem sério e respeitador; ela, mulher tímida, de poucas palavras. Viviam tranquilamente, os filhos estavam casados e a loja de armarinhos dava para viver. A vida era boa, não faltava nada, estavam satisfeitos com a família. Os netos eram sua alegria, havia paz e harmonia no lar; até aquelas mulheres aparecerem.

Dona Rosa ficou um pouco espantada quando as beatas começaram a freqüentar sua casa, não era dada a esse tipo de amizades. Vinham quase todos os dias; o marido protestou. - O que era aquilo?- A novena já havia acabado. O homem perdera a privacidade e elas ganharam confiança. Pediu á esposa que as afastasse dali, mas a mulher não tinha boca para nada e foi aceitando a novidade; até gostava, estava mais alegre, mais falante.

Vitório não se conformava; elas abriam o portão, a porta da frente e entravam indo parar na cozinha. Eram três beatas desocupadas. - O que fazer? Ameaçou destratá-las, até ofendê-las para que a paz voltasse a imperar naquela casa. Rosa não tinha coragem de tomar uma atitude hostil contra as amigas e a situação foi se agravando. Tomavam café, chá e até jantavam ali; parecia uma pensão, dizia o homem enfurecido. Era demais, tinha que tomar uma atitude urgente.

Chamou a mulher e intimou, ou ela dispensava as amigas ou iria fazer uma besteira. Nada mudou e o homem aborrecido passou dias pensando; não adiantava brigar, gostava da esposa e não queria magoá-la. O homem mal podia acreditar que sua vida estava virando de pernas para o ar por causa de pessoas intrusas; a mulher não ligava mais para ele, estava mudada, para pior. Pensou, pensou e resolveu agir, não importava as conseqüências ou o tamanho da besteira, tinha que ser radical. Arquitetara um plano infalível.

No dia seguinte, após o almoço a mulher disse que iria passar roupas lá nos fundos, era a oportunidade que ele precisava, ficou á espreita. Ouviu o portão abrir, os passos no corredor; o sangue lhe subiu á cabeça. Juntou toda coragem de um ser humano furioso e tirou a roupa. Ficou pelado no meio da sala, isto é estava de chinelos, esperando as beatas entrarem, como sempre faziam. Quando abriram a porta e viram o homem nu, gritaram em coro:- Tarado......... Tarado, Tarado...... Tarado........., socorro?- È o demônio. Deus nos livre do capeta e saíram correndo para nunca mais voltar.

Vitório ficou rindo enquanto Rosa vinha correndo para ver o que estava acontecendo ali. Parou surpresa ao ver o marido pelado no meio da sala. - O que fizera? Indagou. Rindo ele respondeu que o problema estava resolvido. Sem dizer uma só palavra espantou pessoas tão inconvenientes. A mulher ficou zangada, dizia que o marido fizera uma besteira, onde já se viu, eram mulheres honestas e agora?- Como ficaria?

A cidade toda ficou sabendo do ocorrido, mas ninguém foi tirar satisfações. Vitório dizia que dentro de sua casa andava como queria e que elas não tinham o direito de invadir sua privacidade. Foi motivo de piadas por um bom tempo; as beatas sumiram e nunca mais apareceram. Cortavam volta para não ver o comerciante novamente. Grande foi á vergonha que ficaram um tempo sem ir á Igreja. Até que o padre mandou chamá-las.

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