BESTEIRINHAS
QUE NOS VALIAM A VIDA
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Dam
Nascimento
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Há
muito tempo, sim, que eu te escrevo, ficaram velhas todas as noticias.Nenhum
bilhete enfim, para dizer um oi eu recebi com tuas letras apressadas e
é depois de um tempo que percebo o quanto saudade dói. Sinto
a falta de teu sorriso nos meus cafés da manhã; a tua irreverência
boba que me levava à infância, brincando de fazer desenhos
nas torradas com geléia de maçã. Seu jeito simples
e sonhador de conhecer a vida. Talvez tenha sido este o motivo de nossa
separação; você tão leve e eu tão com
os pés no chão. Lembro do seu desejo de conhecer o mundo,
ver o amanhecer de vários ângulos, com várias cores.
Daquela mania de contar estrelas e sempre acreditar em dias melhores e era na chuva que alcançava seu ápice. Enxurrada abaixo você ia, como se fosse a dona do mundo, abrigando-se sobre tudo que se chama liberdade. Acho que todos os nossos filhos puxaram a você, com esta coisa de tomar espaço, desbravar o mundo. Se eu tivesse a chance de mudar o meu destino, ultrapassaria os limites do meu eu, do meu medo de fugir a rotina, de chegar ao fim do túnel e não saber o que fazer. O medo do amanhã e suas incertezas, o medo do escuro e da morte, o medo de ser feliz por mais tempo dentro de um dia e com coisas simples. Beijaria sua boca desesperadamente na praça para escandalizar os outros casais, riscaria como sempre tive vontade, o seu nome nos muros brancos. Jogaria meu
amor em pedaços pelo ar. Seria eu, o louco que sempre perdeu a
queda de braço para o certinho dentro de mim. Seria pelo menos
uma vez, mais emoção que razão. Mais bagunça
que disciplina, mais bom humor que seriedade e apreciaria sua doçura
toda vez que me olhasse. O tempo não volta atrás, mas, se você receber este bilhete, saiba que sempre será a mulher da minha vida. |
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