COISAS
DO ABANDONO
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Zeca
São Bernardo
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Um click ou dois e...pronto! Lá estava a foto, sim, sim, mesmo tantos anos passados não persistiria qualquer dúvida após um breve exame das fotos. Perguntas, quem não hás tem? Respostas, coisas preciosas em qualquer época, em qualquer idade. Como mensurar isso tudo? Como reagir a surpresa e espantar a confusão? Afinal, foram quase quarenta anos sem notícias nenhuma. Um pouco mais, um pouco menos para cada irmão dada a diferença de idade. Irmãos, pensou, o correto é dizer-lhes imediatamente!Sim, sim, claro, claro, afinal de contas por que ocultaria-lhes a informação? Uma vez que o achara seria questão de tempo para encontrar os outros. Mas, como fazer? Simplesmente, pegar o telefone, discar os números velhos conhecidos e contar-lhes- dizia-se. Não, não, não é assim...murmurou em voz alta atraindo á atenção do usuário da baia ao lado na lan house. Tornou a seus pensamentos quase ocultos, quem passava distraidamente pelo corredor a frente não tinha como fechar os olhos as lágrimas sentidas que desafiavam seu bom senso e suas decisões. Não deram-lhes a chance se quer de ser uma família!- pensou, cada qual fora criado por um parente distinto, mal se viam nas festas. Sempre sobravam nas contas, na mesa e na vida dos outros. Ficavam com as sobras, não havia nada que o demove-se dessa certeza. Tinha uma vida inteira como prova e com os irmãos não fora diferente. Pensou no que diria o cunhado, pensou em Freud, Nitche, Lacan, Jung, John Lenon, Buda. Perdeu-se em outras faltas de certeza. Algum dia racionalizaria a questão toda só para concluir se o problema em si era questão de discrepância filósofica e portanto de fácil correção ou se estava mais carente de análise pscanalitica. Não lhes deram a chance nem de ser uma família- ecoava o voz do cunhado em sua mente. Não fora cínico, não fora caustico, não fora irônico, não fora nada. Apenas dissera a verdade. E em nome dessa verdade bloqueou o e-mail daquele desconhecido. Passara a vida inteira tendo-o como morto. Que continue assim, disse sufocando o soluço, pelo menos para mim. Não esteve lá nos primeiros anos e em nenhum dos outros. Não viu os filhos crescerem, tornarem-se homens, mulheres e partirem para a luta. Os abandonou e o abandono deixa perguntas e o vazio, enorme, sempre crescente ao derredor tanto de quem abandona como de quem é abandonado. Não lhes deram a chance de ser uma família, logo, por que ele daria- lhe a chance de se dizer pai dele ou dos outros? Um, dois, clikes e bloqueou o seu email para mensagens vindas daquele endereço. |
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