SEQÜELAS
DE UM SEQÜESTRO
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Djanira
Luz
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Depois daquela violência sofrida, vi a vida com outros olhos. Foram tantas ameaças, que acreditei mesmo que acabaria numa desgraça. Depois que sofri, imitando uma crisálida, fiquei trancada aqui, com medo de sair. Medo este que me atormenta e me acorrenta. Da rua tenho medo, das pessoas receio. Não tenho mais confiança, nem mesmo numa criança... *** Quando se passa por um trauma de seqüestro, leva um bom longo tempo para voltar a confiar em alguém. Ainda mais porque muitas vezes, o suspeito ou autor da violência, é justo aquele que menos se espera. Sinto frio... Todas as vezes que recordo esse episódio, sinto frio... Frio da morte, quem sabe... Naquele dia, quase morri! Quase fui morta. Agora já consigo falar sobre o fato, mas ainda é desconfortante porque revivo tudo outra vez. E por que escrever, então? Para que saia daqui de dentro de mim, que seja exorcizado, que se dissipe e não volte. Na esperança que isto me conforte. Quero de volta a leveza da minha vida feliz, dos meus sonhos coloridos. Quero recuperar esse tempo perdido. Voltar ao ponto exato em que tudo aconteceu e viver segura, amando e seguindo o curso normal da vida. Parece que jogaram minha vida para o ar, está difícil juntar os pedaços. O corpo pouparam, não foi violentado; mas meu íntimo, minhas particularidades, essas foram invadidas. Segredo de família, coisa boba, mas que era só intimamente meu; minhas fotos, meus textos, tudo revelado. Hoje sou uma lagarta, presa no casulo. Passarei por uma transformação. Romperei o invólucro, criarei asas, e finalmente, serei uma linda borboleta! Irei alçar num vôo inimaginável e, novamente, como uma grande recompensa pela dor da ruptura do casulo, contemplarei o infinito belo azul do céu e o esplendor do Sol. Uma metamorfose, uma transformação pode levar tempo ou mesmo ser dolorosa, mas o resultado é surpreendentemente compensador. Vejo você no ar! Ao ver uma borboleta, faça uma prece por mim... |
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