AQUELES
E ESSES ANOS
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Alice
de Sousa Silva
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Já se passaram muitos e muitos anos desde que deixei minha terra, minha pátria. Os primeiros anos foram de total solidão. Conheci o sentido da palavra saudade, o verdadeiro sentimento, nessa terra estranha, distante da familia. Foram os primeiros anos da decada de 90. Desde então ocorreram as mudanças lá e cá. A pior de todas foi envelhecer, ver o tempo levar a cada ano uma película da minha juventude! A melhor de todas foi ter uma vida aqui. No entanto esquecer aqueles anos é impossivel. Estão marcados, cravados, tatuados dentro de mim. São lembranças de uma profunda mudança. Até aceitar que tenho duas vidas a recordar, uma lá e uma cá, foi uma caminhada dura. Compreender que agora sou daqui e sou de lá não foi fácil, foi depressivo. Foi tão sofrido , mas consegui e hoje eu sou feliz por ter aprendido, continuar aprendendo a viver assim com duas pátrias a amar. Pois se hoje penso em deixar essa que adotei eu sofro, mas se não vejo a minha pátria-mãe eu choro! Hoje o que me dói são as lembranças e a saudade dos que deixei e que partiram para morar com Deus! O meu pai, minha irmã, meus tios, primos, amigos, eles que se foram para sempre. Aqueles que se despediram, que tiveram consciência do seu momento. Outros que nem tempo tiveram, se foram de repente como um sopro. E todos esses anos me trouxeram rugas, desbotaram um pouco meu sorriso. Mas me trouxeram sementes que plantei, que colhi... minhas filhas. Poderia dizer que me deram experiência, mas o que faço com ela? Acho que é apenas uma receita velha que já sei de cor. |
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