TENTANDO
AGIR NATURALMENTE...
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Adriana
Vieira Bastos
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...procurou disfarçar o confuso sentimento que tomava conta de si ao vê-lo ansioso esvaziar o guarda roupa e colocar todos os pertences dentro da enorme mala, comprada para aquela ocasião. Os livros, os cds, a raquete de tênis, a coleção de cartões, aguardavam pacientemente a vez de serem colocadas na da caixa de papelão ao lado da cama. Ofereceu ajuda, mas ele, sem perceber a aflição dela, agradeceu. Triste, entendeu que este era um momento só dele e a ela cabia apenas as lembranças de tudo que haviam compartilhado juntos. Lembrou-se da expectativa do primeiro encontro. Será que estava preparada para aquele relacionamento? Como ele seria? Tantas elucubrações se perderam no momento em que o viu pela primeira vez. Fez o maior sucesso no pedaço. Não tinha quem não o achasse lindo e ela simplesmente derreteu-se toda ao saber que era no mundinho dela que ele iria reinar. Sorrindo, lembrou-se de como nos primeiros anos ele a surpreendia quase que diariamente. Uma fala espirituosa. Um jeito diferente de ver o mundo. Um sorriso conquistador e maroto de quem sabia ser a arma fatal para deixá-la submissa aos seus encantos. Os anos se passaram e começaram as mudanças! O olhar maroto dava lugar ao olhar contrariado. O silêncio tomara o lugar das falas espirituosas. Súbitos rompantes tornara-se a arma ferina contra todos que ousassem ameaçá-lo. O sorriso se tornava circunspecto e ciente de sua força. Mas quando se distraia surgia a espontaneidade no olhar. Ambos sentiam ser a hora de aprendizado! Hora de aprender a conviver com as diferenças. Com a individualidade. O tempo não parou até chegar ao quarto. E ela, com os olhos marejados, deu-lhe um sorriso tímido, com a certeza de que ele também levaria num cantinho da mala as lembranças de tudo que viveram. Sorriu um pouco mais ao ouvir aquela voz, que se tornou grave e firme, dizendo: - Calma mãe, eu só vou me mudar!"". Não ousou contestá-lo por saber que ele ainda era jovem demais para entender que ela não chorava por vê-lo partir. Mas eram lágrimas de felicidade por sentir ter cumprido sua missão de mãe e tê-lo preparado para alçar vôos maiores. Deu-lhe um beijo no rosto, desejou-lhe boa sorte, ciente de que o amor incondicional, plantado e cultivado nestes anos todos, permaneceria num cantinho do coração de ambos, independentemente do caminho que resolvessem trilhar. |
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