DOR
DA ALMA
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Eva
Ibrahim
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Os automóveis cheios de convidados chegavam e estacionavam em frente á Igreja. As famílias bem vestidas desciam e entravam; a noiva deveria chegar logo. O noivo aguardava ansiosamente em meio aos padrinhos. Havia muitas flores distribuídas no altar e nos bancos. A moça sentada em frente ao órgão esperava um sinal para iniciar a música, que acompanharia a entrada da noiva. O coro estava a postos para iniciar o cântico tradicional. A alegria estava no ar, era dia de festa. Do lado de fora, longe dos olhos das pessoas um homem se esgueirava para ver a noiva chegar, era Seu Manoel, o pai dela. Um homem sofrido, acabado, doente que queria ver a filha vestida de noiva. Seu coração batia forte, fazia anos que abandonara a mulher e os dois filhos para viver a vida que queria, isto é, bebidas e mulheres. Quando o dinheiro acabou, as mulheres se afastaram, ficando com a bebida e sozinho. A esposa, com muita luta, conseguira criar os filhos e agora adultos seguiam seu caminho. Soube
do casamento por um amigo e não resistiu, queria abraçar
a filha, na verdade queria sua família de volta. Sabia que não
precisavam dele para nada, estavam muito bem agora e ele um farrapo humano.
A vida lhe cobrava todos os desatinos cometidos. Vivia em dois cômodos
no fundo de um quintal e a solidão era sua companheira; tinha vergonha
de procurar os filhos e a mulher, a quem tinha feito sofrer muito. A música começou a tocar e a moça de braços dados com o irmão entrou na Igreja. Seu Manoel devagar se aproximou da entrada, queria espiar o casamento de sua filha, iria rever a mulher com quem um dia se casara. Ninguém percebeu sua presença, todos olhavam a frente e ele pode, por alguns minutos, observar sua família. Como sua mulher estava bonita! A idade não ofuscara sua beleza, continuava com seu porte majestoso, que tanto o encantara na juventude. Olhou para si e sentiu pena, era o oposto dela, se transformara em um molambo, sem eira nem beira. Não podia se apresentar e estragar o casamento, era melhor ir embora. Saiu
e ficou distante, queria vê-los quando fossem á festa no
Salão Paroquial, ao lado da Igreja. Ficou atrás de um automóvel
com os olhos fixos na saída Os convidados depois de cumprimentar
os noivos se dirigiam á festa á espera dos recém
casados. Seu Manoel extasiado observava sua família, estavam muito
bonitos. Queria abraçá-los e beija-los; Isto era loucura,
seria enxotado, era o que merecia, colhia o que plantou. Depois
de algum tempo ele viu sua mulher sair de braços dados com um homem.
Foram pegar alguma coisa em um carro e retornaram rindo alto. Foi o golpe
de misericórdia a ele só restava morrer; Depois de tanto
tempo era de esperar que ela tivesse outra pessoa, mas lá no fundo
ele acreditava que ainda estava á sua espera. Não continha
as lágrimas, a realidade estava ali e ele não podia fazer
nada. A festa não tinha hora para acabar; o homem resolveu ir para
casa. No
dia seguinte uma notícia no tele jornal chamou a atenção
da mulher, o nome lhe era conhecido, era seu ex-marido. Foi á delegacia,
precisava saber se era ele. Muito emocionada a mulher disse que não
sabia se estava vivo ou morto; a muito não tinha notícias
e com lágrimas nos olhos ela lamentou: |
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