Em uma bela tarde, parei para comer um pastel ao lado de uma igreja e em frente havia um ponto de táxi. Sentei-me para degustar o meu pastel e comecei a observar um taxista que estava conversando com um outro senhor.

Fiquei imaginando qual seria sua idade, pois sua aparência era de um senhor com mais de 60 anos. Notei, porém, que apesar de seus cabelos brancos e ralos, ele possuía um certo vigor, uma energia incomum para alguém daquela idade. Falava com desenvoltura e transmitia sabedoria em sua voz, sabedoria essa que só pode ser adquirida por alguém que já viveu muito observando a vida e as pessoas. Além de todas essas características, observei sua aparência física. Ele usava uma camiseta pólo listrada, uma calça bege de sarja e um sapatênis; Tudo combinando. Pensei :"bem que o meu pai poderia estar assim!" No entanto, ele não estava, apesar de todo vigor que um dia ele possuiu.

Por muitos anos eu vi a alegria de viver estampada no rosto do meu pai. Seu assovio se escutava ao longe, sua voz grossa era marcante, sua luta diária era invejável. Jamais esmorecia, apesar das muitas tribulações que a vida lhe apresentava. No entanto, um dia o gigante tombou. A doença o visitou e não mais o abandonou. Toda sua alegria se esvaiu e o assovio não se ouvia mais. Aquele que era totalmente independente, que ia e vinha a hora que queria, tornou-se dependente para quase tudo; tornou-se um simples farrapo humano! E, ao mesmo tempo que me pergunto: o que é o ser humano? Eu também respondo: não é nada! De uma hora para outra deixamos de ser aquilo que pensamos que somos, pois só pensamos na materialidade, só valorizamos o ter e esquecemos do ser.

O ser humano é uma Dádiva Divina, mas se esquece disso quando tudo vai bem, principalmente na parte financeira. Faz e desfaz sem medir conseqüências; vive para satisfazer a si mesmo; não pensa muito no outro; não se coloca no lugar do outro e vive como se fosse eterno. Quando surge alguma adversidade, esmorece e se sente a pior das criaturas e isso é conseqüência de um orgulho besta cultivado dentro de si.

Todos deveriam se conscientizar que somos parte de um Universo e que um está, de alguma maneira, interligado ao outro. E quando isso acontecer, não nos sentiremos mal ao nos depararmos com situações que não faziam parte dos nossos planos, especialmente no que diz respeito a nossa saúde, que muitas vezes é impossível prever o que irá nos acontecer, pois faz parte dos desígnios de um Ser Superior a nós.

E com relação ao taxista do início, não resisti a curiosidade de saber um pouco de sua vida. Iniciei pedindo-lhe desculpas pela minha indiscrição e perguntei-lhe a idade. Descobri que tinha 59 anos, era aposentado desde 1994, quando aposentou com 10 salários mínimos e hoje ganhava apenas 4. Conseguiu se estabilizar na vida e estava como taxista para cobrir as férias de um amigo que não havia encontrado ninguém de confiança para substituí-lo, inclusive o veículo era do amigo. Falou sobre os filhos, a realidade atual, onde as pessoas não querem nada com nada, a falta de solidariedade e respeito que levam o ser humano a viver por viver, a fazer por fazer e a não mais terem objetivos de vida, o que os transformam em mais um ser humano e não um ser humano.

Jesus disse: "Vós sois a luz do mundo", ou seja, todos nós somos pequenas luzes no mundo, mas muito já apagaram sua luz e tentam apagar a dos outros também!