ANDANDO
NA CHUVA
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Willian
H. Stutz
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E ela cansada de tanta mesmice andou na chuva. Era a primeira chuva. Redentora, anunciava o fim de longa estiagem, chuva tão esperada por homens, bichos e plantas. A poeira também desceu rápida dos céus e lavou o ar, lavou vento e folhas. Ela sentiu cheiro de verde e terra molhada. Respirou delicioso ar puro e úmido, seu peito se encheu de vida. E ela encantada andou na chuva descalça. O toque de seus pés desnudos com o chão lhe trazia um prazer singular. Em algum cantinho de suas mais belas lembranças lá estava a sensação. Déjà vu. As pequenas pedrinhas que por vezes topava não a incomodavam em nada. Pequenas alfinetadas nos pés com gosto e lembrança de infância, não doíam mesmo em dor. Ela na chuva cabelos molhados sentia a bênção de ter os pensamentos e emoções lavadas, sentia-se transportada para algum lugar lá longe no tempo, quando era mais feliz. Não que fosse triste, pelo contrário tinha tudo, ou quase tudo, com que sempre sonhara. Mas a alma humana verdadeiramente sensível, verdadeiramente alma, pode algum dia se dar ao luxo de plena, de plena... calma? A roupa agora encharcada se fazia nova pele, o contorno de seu corpo visível em água, e ela estava feliz por que gostava do que via, do que sentia, gostava. Privilégio. Hoje não vestiu sua armadura de segurança, se expôs aos seus verdadeiros sentimentos, e a chuva que hora tomava lavou, levou todos os seus temores para bem longe. Pele e seios encantadoramente arrepiados em prazer indescritível. Vontade de gritar! Uma lágrima de felicidade a se misturar com a chuva. Não, aquela lágrima não se misturou. Como diamante de rara pureza, lapidado em cor, dor e muito amor escorregou por seu rosto, percorreu-lhe o corpo em manso afago, e sempre brilhando, destacada na enxurrada, buscou caminhos de um rio, e lá ainda em brilho de gema-alma permanece eterna, guia, conduz, norteia aqueles que como ela aprenderam a amar. Hoje, cansada de mesmices e protocolos fúteis tomou chuva com gosto e vontade, por um instante, breve instante, se tornou outra pessoa, seu corpo exalava perfumados temperos: salsa, salvia, alecrim, e tomilho, a mística música. Com as sandálias nas mãos, decote aberto, vestido enrolado até os joelhos, olhos entreabertos, sorriso puro em larga e carnuda boca, encharcada até os ossos e feliz, cantarolou: Are
you going to Scarborough Fair? Have
her make me a cambric shirt E eu me lembrei tanto dela. |
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