VESTÍGIOS
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Tieme
Mise
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A noite surpreende-me a mostrar os primeiros clarões da alvorada pela janela fechada por onde o sol faz um esforço enorme para entrar. As sombras se atenuam. Toco meu rosto e sorrio com suavidade. O sonho insiste em ficar, sem compreender que um novo dia nasceu. Já é hora de partir. Um ressonar suave ao meu lado espalha ainda a magia vivida. As roupas jogadas sem nenhum cuidado mostram a pressa do abraço, sabendo-o finito. Sob os cobertores o calor do cansaço embala o sonho manso num planar sereno. Devagar, pé ante pé, deslizo para o assoalho frio, tentando não arrastar uma ponta de lençol que ainda se prende a mim. Um banho quente me traz de volta a realidade. Aquele é um imenso amor, descomunal, que me penetra até os mais afastados terminais sensitivos, mas, como a lua nem sempre compreendida, deverá permanecer silencioso e secreto para não causar sofrimento. Arrumo o quarto como posso, apagando os vestígios de minha presença. Levo as taças de vinho e a garrafa vazia para a pia. Lavo a minha taça. Visto a roupa com cuidado e quase sem barulho saio da casa que ainda guarda, em seu seio, o cheiro da noite. O que não posso apagar é o sorriso bobo que insiste em vir nas horas menos adequadas, quando relembro o tremor e o toque pleno de desejo, a simbiose e a sintonia, o arrepio e a palpitação, o vibrar inquieto da carne pedindo a poesia da alma e a satisfação plena de ter conseguido o verso mais lindo. A alegria de se estar ao lado, sentindo o murmúrio do que se insere na essência. Faço
o desjejum na cantina do trabalho e Sorrio para ela, concordando com um movimento de cabeça, sentindo a compreensão em seu olhar. O amor deixa os seus tentáculos em atemporais vestígios de sonho. Esses, reconheço, são difíceis de apagar! |
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