SOBRAS
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Leo
Guerra
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Na 1ª vez ele pediu: Tia, da um pouco de comida? Pois tô com fome. A senhora, sem ao menos abrir a grade, jogou-lhe umas sobras de pão pelas frestas do portão. O pão estava duro e os dentes, quase todos estragados, do garoto trituraram aquelas migalhas numa velocidade impressionante. Nem percebeu o mofo que se concentrava naqueles restos. Na 2ª vez ele pediu: Tio, tem algum trocado ai pra que eu possa comprar um lanche? O homem percebeu que tinha algumas moedas no cinzeiro do carro, deveriam estar ali há anos. Entregou-as para o garoto e fechou o vidro rapidamente. O cheiro daquele moleque era insuportável e já começava a lhe causar náuseas. O garoto ficou feliz, eram sete moedas. Mas logo desanimou. Apenas onze centavos, provavelmente teria de passar o resto da noite em jejum. Na 3ª vez ele ordenou: Aí playboy de merda, passa a carteira e a porcaria do celular aí senão eu te corto inteiro seu desgraçado! O adolescente de classe média ficou em dúvida, afinal de contas, o assaltante era nitidamente mais franzino que ele. Porém ponderou, pois o garoto possuía uma grande navalha cega e também muito menos a perder. Entregou o celular, carteira e também os tênis. O pequeno marginal saiu correndo em disparada por entre vielas. Teria cola suficiente para se entorpecer por uma semana. Na 4ª vez ele suplicou: Pô tio, pelo amor de Deus, não me mata! O homem de farda azul já não agüentava mais aquele bando de mini-bandidos pelas ruas do centro. Sabia que logo iriam crescer e tornariam-se assassinos. Naquele beco escura às tantas da madrugada, ele não deu ouvidos às súplicas do garoto e apertou o gatilho. |
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