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CASO DA ANTENA PARABÓLICA | ||
Raimundo
Antonio de Souza Lopes | ||
Essa semana eu resolvi que estava na hora de trocar a antena parabólica que capta as imagens televisivas nos receptores instalados na minha residência. Apenas uma questão de se modernizar, pois a que estava instalada, funcionava bem, mas já tinha de uso, uns 20 anos. Para os padrões atuais, funcionava, digamos, a meia boca. Um conhecido, expert em antenas e similares, me orientou que eu deveria comprar uma em que o receptor fosse automático na localização da busca dos canais. Pois bem, orientado que estava e desejoso de acompanhar a evolução tecnológica, recebendo mais canais de programação evangélica que inunda as tevês brasileiras, lá fui eu em busca de uma loja especializada, no centro da cidade. Lá chegando, fui bem atendido pelo seu proprietário, que estava, no momento, montando uma antena, na calçada defronte ao seu comércio. Expliquei-lhe o que pretendia, fui aconselhado qual a melhor aquisição e estávamos fechando negócio quando ouvimos o barulho, vindo da calçada, de alumínio sendo amassado. Curiosos, saímos para olharmos quem estava batendo com um pedaço de pau em um emaranhado de telas de alumínio, que naquele instante, era somente uma bola retorcida do material inda pouco feito para se tornar uma antena parabólica. Eram dois, digamos, indivíduos chegados a uma "branquinha" que ao passarem por aquela rua viram uma parte da antena sendo montada, não dando uma idéia do que seria, resolveram se apropriarem do alumínio para venderem e assim comprarem o precioso líquido, paixão de desejo dos dois, com certeza. Enquanto o dono do comércio se dirigia aos dois, fiquei observando o diálogo travado entre os três: "- Meus amigos, o que vocês estão fazendo!?!?" - exclamou e interrogou o proprietário do estabelecimento, perplexo com a atitude descabida daqueles transeuntes. "- Aí seu "dotô", nóis ia passano quando vimo esse aluminu dando sopa na calçada e como não tinha dono, fiquemos pra nóis. Por quê? (Nesse instante eu observei que o cidadão estava com os olhos avermelhados e o tom de voz denunciava que ele estava grogue, ou melhor, de tanque cheio da "malvada"). "- Por quê? Vou lhes dizer por quê: vocês simplesmente destruíram uma antena parabólica que custava uns trezentos e cinqüenta reais. Agora me digam uma coisa: qual dos dois irá pagar o prejuízo?" (Esperei a reação, tipo: desculpe meu patrão, mas a gente não sabia; não tinha idéia; não deu para perceber ou, como nós não vimos ninguém por perto, achamos que se tratava de lixo e por isso nós nos apropriamos. Que nada! O que ainda não tinha falado tomou a palavra e serviu de porta-voz oficial da dupla): "- Patrão, a gente não tem dinheiro nem pra comprá um pão, quanto mais pagá essa coisa que o sinhô disse ser uma "trena paradoca!" Nóis somo biscatêro. Ói, se o sinhô quiser, a gente vai vendê esse alumínio e traiz o que apurá pru sinhô, certo? (Juro que nessa hora eu torci para que o descontente proprietário da "trena paradoca" dissesse que sim, mas ele não leu meus pensamentos, mesmo porque o prejuízo seria maior, com certeza, e optou por deixar o prejuízo do tamanho que estava mesmo). "- Não, obrigado. Pode deixar aí mesmo. Por favor, vão embora!" - enquanto pedia, sem perder a calma, ele olhava a sua perda, suspirando desolado. Como consolo, quando voltamos para dentro da loja, eu lhe disse que ele podia aproveitar uma boa parte da antena e que o mais caro, que era a peça receptora que ficava no centro do diâmetro, não tinha sofrido nenhuma avaria. Ele concordou, mas me adiantou que seria muito difícil refazer aquela peça. Esquecemos o assunto e quando ele estava me entregando o recibo de comprovante, és que aparece um dos envolvidos no episódio, adentrando o ambiente, exalando no ar uma mistura de álcool e tabaco, proferindo a seguinte frase: "- Dotô, já que nóis não vai levá o aluminu, dava pru sinhô arranjá uns trocado pra gente tomá uma?" Juro que eu esperei o pior. Até me virei de costas para não ver a cena seguinte. Felizmente, o "dotô" tinha (ou estava com) uma paciência de burro, pois só suspirou resignado e, delicadamente, pediu para o mesmo se retirar, talvez até com medo de ser mal interpretado e receber, em troca, um processo, por danos morais ou coisa parecida. Bem, resolvi sair de lá imediatamente, mesmo porque já tinha concluído o contrato e, quando estava entrando no automóvel, vi um rapazinho montando uma bicicleta, parar em frente à loja e perguntar: "- Ei! O senhor não quer esse alumínio? Posso levar?" Liguei o carro e saí dali para não ouvir a resposta. | ||