PEQUENAS
HISTÓRIAS 194 | ||
Osvaldo
Luiz Pastorelli | ||
Foi algo não imaginado. Surpreendeu-se, claro que se surpreendeu, mesmo que preparado estivesse não poderia evitar a surpresa. E ele não tinha se preparado. Quando diziam que se preparasse para os imprevistos, não ouvia, desprezava conselhos. "O prevenido vale por dois" - dizia sua mãe. Nunca deu ouvido, saia sempre sem guarda-chuva. E ela retrucava quando voltava molhado. "Bem feito, não recomendei para levar guarda-chuva, conselho de mãe não se despreza." É, dava razão agora, mesmo assim não gostava de conselhos. Sabia que desde o nascimento o ser humano está preparado para colher o seu destino, fizesse o que fizesse. Destino! Outra coisa que não acreditava muito, não. Se o destino dele é ser feliz, porque deveria labutar para conseguir a felicidade? Se ficasse imóvel parado, não seria feliz? Não, não seria, é preciso fazer para ser, lhe diziam os filósofos da vida. Quer dizer que o seu destino é esse: fazer para ser? Todas essas questões lhe vieram à mente ao deparar com o inusitado, com o não imaginado, o tal do imprevisto. "Não levou o guarda-chuva, bem feito." - pareceu ouvir a voz da mãe. E foi um soco no estômago, não foi um soco, foi uma explosão atômica. Não contava com isso. Relutou sem saber como dar prosseguimento. Tentou desviar, tentou pela razão, tentou pelo conhecimento, tentou pelo coração, nada adiantou, não tinha como fugir e, como lutador que sempre pensou que fosse, enfrentou com o espírito elevado, enfrentou. Assim que abriu a página, assim que seus olhos castanhos claros puxados para o verde deparou na imensidão do branco do papel, decidiu-se finalmente. Pegou da borracha e apagou aquele infernal ponto preto, enorme bem no meio da página. A partir desse momento, conseguiu escrever, conseguiu expressar os sentimentos aglomerados em seu peito. Respirou aliviado. Nunca mais se preocupou com o que deveria ou não escrever. | ||