Flores
de cerejeira espalhadas Por todos os cantos, digam-me, Afinal o que fazem
aqui? Sopram de teus galhos tantas Histórias que não cabem
noutro Lugar que não seja o livro do Destino. Cruzando
o mar bravio aqui chegaram, De um lugar tão distante que lá o
Sol nasce. Trazendo na bagagem perseverança e tradição. Disciplina,
exercício verdadeiro da liberdade plena Das certezas de vencer cada
obstáculo a seu tempo. Combatendo pelas gerações a fome
e a pobreza. Transformando o sonho em realidade com suas próprias Mãos
nos cabos das enxadas, no arado puxado pelo homem preso em suas costas. E
a tarde tem a cerimônia do chá e vem chá verde Do oriente,
esperança que brilha nos olhos dos bisavós Nas velhas fotos
dos álbuns guardados a sete chaves. Da
mata se tira flor, folha e raiz na cerâmica Se faz a ikebana e cem anos
depois temos Jaboticabas em bonsai. Menino
que dobra o papel, não faz Dobradura, faz origami. Combina Cores
e formas e nasce de suas mãos Os dragões que povoam as histórias
de seus avós. Chega
na cidade trazendo carga preciosa, A mesa paulista jamais seria a mesma. Laranja,
maçã, manga, soba e caqui. Soyo, saque e guioza servido lado
a lado Com acarajé regado a muito dendê. Por
falta de tambor não se fica, O taiko não permite que o coração Pare
de bater. Hoje samurai lembra a história de seus Ancestrais e aponta
o caminho sem desembanhar A espada na Liberdade. Seu
primeiro nome é Jorge, como É o do santo guerreiro que divide
espaço com O Buda no templo dentro de casa e As crenças assim
somadas nos lembram que Somos todos brasileiros. Acende a vela é
terceira, Ogum Já está na estrada. O dragão cansado
não quer ser mais abatido e Fugiu da lua, foi lá para casa. Lava
o Buda com o chá, distribui doces no Dia das crianças, distribui
o moti que um Ano novo já, já vai começar. Nossos
filhos já aprendem a brincar de super-heróis Com os personagens
de manga e de anime. Ouço, daqui e como ouço daqui, os brados
de antigos guerreiros Que repousam entre as estrelas lá no mesmo céu Do
Japão que daqui também posso ver. Mussassi, Ito Ogami com suas
espadas, Suas vidas tornaram-se mais que lendas e Kurosawa com sua câmera. Nos
ensinou a olhar o todo no detalhe. Hiroshima,
vergonha do mundo Certeza da desumanidade do homem. Prova de sua crueldade. E
tem príncipe pisando solo brasileiro e Aqui até dando a mão
para algum descendente de Navegante que um dia pisou terras de Xoguns e Pintou
biombos. Então,
deixa cerejeira em flor, deixa Para lá a pergunta deste poema meio samba. Tentativa
frustrada de procurar sonoridade Em palavras feitas por quem nunca prestou
para aprender a tocar instrumento nenhum. Deixa
cerejeira em flor, espalha tuas pétalas, para além desse dia.
Para além de todos os dias. Dança ao vento da eternidade
que engole á todos nós. |