CIGANA
Silvia Pires
 
 

Anoitecia.

Nenhum som era mais vibrante que o do farfalhar da saia vermelha.

A música ritmada que saía dos alto-falantes, parecia acompanhar os movimentos de suas pernas, não o contrário. Era como se ela fosse a própria música, ditando os acordes.

As pessoas a sua volta sentiam-se hipnotizados pela dança. Não conseguiam desviar os olhos daquela mulher.

Ela, num tipo de transe, personificava a sensualidade e feminilidade de todas as mulheres. Num momento, insinuava-se, noutro, se recolhia numa timidez pura e ingênua.

Confundia a mente dos homens, e instigava as mulheres a fazerem o mesmo. Era pura paixão e entrega. Era sedução e instinto. Era segredo e recato. Era submissão. Prometia tudo, mas não dava nada. Era toda mistério.

Não havia ninguém, ali, que não a desejasse ou não a invejasse. Ela despertava muitos sentimentos, menos a indiferença.

Seu parceiro de dança, o vento, era o único que tinha permissão para tocar seu corpo, e vez ou outra, levar aos apaixonados expectadores, seu perfume de rosas.