CONCLUSÕES
Sérgio Gabriel Muknicka
 
 

- Tudo bem?

- Acho que sim... Antônio disse quase dormindo. Suspirou curta e secamente, deu espaço na cama para Olga que rapidamente se deitou nem tirou a calça jeans que vestia.

Havia sido uma tarde cheia para ela. Sua tese de mestrado fora visada e aquele orientador, com sua mesquinha caneta vermelha, sublinhou praticamente todo a pesquisa. A rotina maçante de seu trabalho a enojava. Pelo menos a família estava melhor, o pai saíra do hospital e a irmã se formou na faculdade.

Idiota - pensou consigo - também não fiz progresso algum nessa bendita terapia. "Você tem alguns problemas com envolvimento emocional" Olga disse baixinho fazendo uma careta; terapeuta estúpida.

Acordou cedo, Antônio dormia tranqüilo. Ah! Um leve suspiro ecoou na imensidão branca da cozinha. Gostava de fazer aquilo, acordar um pouquinho mais cedo e preparar o café da manhã. Mas a torrada dela eles sempre dividiam.

- Bom dia. Você... nossa! Já tá pronto. E pergunta enquanto coça os cabelos despenteados:

- Olga, quando vou levantar e te encontrar ainda dormindo?

- Quinta passada eu ainda estava na cama quando você levantou.

- Você estava na cama, mas não dormindo - disse mordendo um pedaço de bolo amanhecido.

- Que tal sentarmos e começarmos a comer antes que esfrie, sim? Evasiva Olga toma um gole de café com leite espumante e morde um pedaço de pão com geléia.

- Me dá um pedaço da sua torrada?

Ela sorri e lhe dá metade. Sempre metade, né? Porque eu nunca como uma única torrada inteira? Poderia ser o pão, ou o bolo, mas ele sempre come metade do que eu mais gosto a minha torrada. Saco! Com um pouco de desgosto engole o bocado final da meia torrada.

Em menos de uma hora estavam saindo do quente apartamento para a imensidão fria de asfalto piche e concreto.

- Às sete a gente se vê - Antônio pisca para ela.

- Porque às sete horas? Você sai às seis.

- Trânsito querida, trânsito.

- Ah... - tanto passou por sua cabeça naquele instante, ficaria uma hora sem ele, sem seu vagaroso arrastar de pés pelo apartamento, sem sua respiração calma e pausada. Sessenta longos minutos sem ele a obrigariam a dançar com ventos da solidão cuja impiedade é grande, e esses ventos poderiam muito bem...

- Olga? Antônio a sacudiu. Olga abriu os olhos como um bichinho assustado. O namorado a abraçou podendo sentir os músculos delicados das costas dela retesados e frios. Após uns segundos de conforto, entraram no elevador e ele foi para seu dia de trabalho rotineiro e feliz.

- Ai, ai. Ele merece meia parte da minha torrada.