DANÇANDO AO VENTO
Daniela Fernanda
 
 

Anos haviam se passado, e tudo continuava igual. Até que ela conheceu alguém que fez seu firme e sofrido coração pulsar daquela velha forma que fazia antes de endurecer.

Não se sabe como, tampouco porquê, só se sabe que ele encontrou uma brecha em um canto qualquer daquele coração rijo e se instalou por ali furtivamente. E quando entrou, provocou um milagre, fez com que tudo se movimentasse e florescesse. Ocupou um espaço que não era dele, nem de ninguém. Um jardim escuro que estava semi-árido e protegido da luz, trancado, seguro e impenetrável. Ela não havia aberto as trancas, nem mesmo afrouxado os grilhões, por isso não conseguia entender como ele tinha entrado lá sem ao menos ser convidado. Mas ele estava lá. E não havia nada que pudesse ser feito para mudar isso.

Ela se sentia como uma folha seca, que cai da copa de sua frondosa casa e se perde quando é levada pelo vento. E o vento soprava forte, e no seu sopro parecia produzir o som de uma música doce. Era o som mais doce que já ouvira, e quando menos ela esperava, estava dançando ao som do vento. E o vento soprava mais e mais, e ela rodopiava solta, com seus cabelos esvoaçantes e com seus braços abertos, como se a extremidade de suas mãos pudesse orientá-la pelo simples toque daquele som.

Sabia que dançar ao vento podia ser perigoso, principalmente para quem sempre tivera os pés enraizados na mais firme rocha da solidão, mas não conseguia resistir aquele som que se tornava a cada momento o mais forte; e o mais suave que passou pela sua vida.

Dançar ao vento lhe parecia, sem sombra de dúvidas, uma loucura. No entanto a paz e alegria, que este pequeno grande ato tresloucado lhe trazia, fazia a dança valer à pena. Pois finalmente ela se sentia livre e por isso podia dançar como uma debutante que dança a sua primeira valsa no auge da beleza da idade mais tenra e bela. E decidiu que enquanto o vento norte daquele inverno persistisse em soprar, ela estaria ali, dançando...dançando... ao menos até a primavera chegar.