LUA
CHEIA DE GRAÇA | ||
Silvia
Pires | ||
O que mais ele gostava quando viajava a noite, era a visão da lua cheia. Quase não era necessário ligar os faróis, não fosse a questão da segurança. A luminosidade da lua nas estradas tornava tudo mais bonito. A estrada ficava como um tapete prateado e as árvores frondosas que a ladeavam, davam uma visão majestosa à noite. E isso trazia um prazer enorme para suas longas horas de viagem. Foi exatamente numa destas noites que ele a conheceu: Já estava ao volante quase 12 horas sem parar. A carga transportada naquela semana tinha que ser entregue sem atrasos. Contudo, o cansaço o estava dominando. Sabia que mais uns dois quilômetros a frente existia um posto com restaurante, bem aconchegante, com boa comida e lugar para um descanso. Percorrido a distância que faltava, lá estava o pequeno posto à beira da estrada. Estacionou o grande caminhão e dirigiu-se ao restaurante. Escolheu uma mesinha próxima a janela e sentou para escolher no cardápio o tão esperado jantar. Teria que ser algo leve, pois descansaria apenas umas horas e depois... estrada de novo. Percebeu a aproximação de alguém, e mesmo antes de levantar a cabeça já podia sentir o perfume delicado de flores. - Já escolheu? - A pergunta foi feita por uma voz de menina. Ele olhou para seu rosto e ficou surpreso com o que viu. A voz de menina nada tinha a ver com sua aparência. Na verdade era uma mulher. De estatura baixa, mas corpo e rosto de mulher. E um rosto sorridente, diga-se de passagem. - Já escolhi sim. Quero um espaguete com molho e frango. - respondeu, retribuindo o sorriso. Ela anotou seu pedido e foi atender as outras mesas. Ele ficou olhando para ela enquanto andava pelo pequeno salão. Usava um vestido simples, florido e bem delicado, que lhe chegava até os joelhos e mostrava o resto da perna bem torneada. Tinha o cabelo preso num rabo-de-cavalo e alguns fios escapavam sobre seu rosto bonito. Não era nenhuma beldade, mas era dona de uma beleza delicada e sutil, como sua voz de menina. Depois de jantar pediu um cafezinho e puxou conversa com ela: - Trabalha aqui a quanto tempo? Novamente com um sorriso no rosto, ela respondeu: - Faz uns dois meses mais ou menos. - Imaginei, porque nunca tinha visto você por aqui antes. - Eu também nunca tinha visto você - falou com ar de brincadeira - não é muita coincidência? E assim foi por uma hora, no vai e vem da moça pelas mesas, trocavam algumas palavras. Mas o tempo passou rápido e ele ainda tinha que descansar um pouco. Pagou a conta e despediu-se dela desejando-lhe sorte. Quando estava chegando próximo ao caminhão, ouviu ela chamando por ele com um psiu. Virou-se para trás e a moça estava correndo em sua direção. Chegando perto dele ela falou atropelando as palavras como se estivesse envergonhada: - Tenha uma boa viagem e espero que volte logo. - para sua surpresa, levantou nas pontas dos pés e deu-lhe um beijo no rosto e meio sem graça disse : desculpe nunca agi assim, mas gostei muito de você. Acho que foi a lua cheia. E saiu em disparada para dentro do restaurante deixando um rastro de perfume. Naquela noite, nas poucas horas de sono que teve, ele sonhou com ela. Depois, quando a lua estava alta no céu, ele partiu para seu destino. Viajando pela estrada iluminada pelo luar, continuou sonhando com a bela mulher que logo veria novamente. | ||