MEU
DEDO MINDINHO | ||
Osvaldo
Luiz Pastorelli | ||
O Comandante do Exército vinha visitar o quartel. E para isso foi designado um pelotão para escoltá-lo, da entrada da cidade até o quartel. O pelotão a cavalo em traje a rigor, deveria acompanhar o carro oficial. E para acompanhar o carro foi escolhido o nosso pelotão, o 1º Pelotão do 1º Esquadrão. O Tenente fez uma preleção de quase uma hora dizendo da importância significativa do visitante. Teríamos que trajar o uniforme completo, o de gala, e para isso ele deveria estar impecavelmente limpo. A visita era dali a quinze dias, e, desse dia em diante, começamos os exercícios de como acompanharíamos o carro. Portanto, todos os dias de manhã, saímos a cavalo do quartel até a entrada da cidade e voltávamos a galope, isso uma seis ou oito vezes por dia. Galopar no asfalto imagina o desastre! Trotar já era difícil, galopar então...! Foi tombo um atrás do outro. Houve um momento de pânico, pois numa esquina, um caminhão virou rapidamente e quase nos atropela. Rapidamente puxamos a rédea fazendo os cavalos deslizarem no asfalto, alguns chegaram a cair. O Tenente gritava, xingava, berrava montado no seu belo cavalo de pelo liso marrom: - O seu merda, não esta nos vendo, caminhoneiro fresco, saia daqui com essa porra de caminhão. E vocês, seus bundões, cagões, demonstram medo o cavalo sente, por isso que vocês caem. Seus merdas. Não adiantava nada os berros do Tenente. Tentávamos de todas as maneiras torcendo para que nada acontecesse. Mas não tinha jeito, era queda e mais quedas. - Seus putos, são soldados ou veados, o próximo que cair vai direto para a cadeia. Perigoso não era você cair, e sim, cair e os que vêm logo atrás cair um em cima do outro fazendo um bolo de soldado e cavalo. Ainda bem que eu era o penúltimo. No segundo dia de exercícios baixaram quatro soldados ao hospital, um deles com o braço quebrado. O Tenente rilhava os dentes de raiva. Vendo que estava difícil continuar o treinamento na rua, não só para a segurança dos soldados e dos cavalos e, principalmente pela segurança dos pedestres que nada tinham com aquilo, no quinto dia os exercícios foram transferidos para dentro do quartel. Aí a coisa melhorou um pouco. Mas um dia, o arreio do meu cavalo começou a afrouxar, a sela dançava de um lado para o outro, de um momento para o outro eu cairia. Parei o cavalo, desci, apertei a barrigueira rapidamente. - Soldado - gritou o Tenente - quem mandou descer do cavalo, seu frouxo de merda. - A sela estava caindo, Tenente. - Caísse com ela seu merda, suba logo vamos. Apressado, acabei de apertar os arreios e ao subir o cavalo começou a andar, me desequilibrei, a espora raspou na anca e, foi à conta, com dois coices, fui para um lado e a sela para o outro. Caí como abóbora madura, de cara no chão. Rapidamente levantei correndo para pegar o cavalo, quando o Tenente gritou: - O moleirão, se machucou? - Não, Tenente, apenas meu dedo mindinho que entortou. E ergui a mão mostrando o dedo torto na horizontal por cima dos outros. | ||