QUEM
PAGA A CONTA | ||
Zeca
São Bernardo | ||
Ora,
a doutrina de Buda é clara: ´tudo é dor e toda dor vem, justamente,
do desejo de não se sentir dor!` Daí
se o homem tiver que enfiar-se por algum caminho que seja o do meio, ou seja,
o da dita moderação. Felicidade? Sim, sim, alguma contanto que mantenha-se
vigilante a certeza que a dor também virá. Dor,
sim, claro, com certeza. Chore sua dor, pouca ou muita.... afinal, ela é
sua e sabe você muito bem o que ou quanto lhe dói. Mas
aqui entre nós, o que se há de fazer com os sonhos? Considera-los
mera fantasia ou simplesmente sonha-los? E
quando o sonho é mui pequeno, básico, como o de não passar
mais fome no país do desperdício? Deixemos
as apologias de lado e façamos outra aposta na loteria. Ela pode mudar
nosso destino, nossa sorte e brincando, brincando, podemos dormir carregadores
de marmita e acordamos sendo novos vizinhos de gente bacana. Talvez
com os trocos que sobrarem daquela festa que vamos dar possamos até fazer
a tão sonhada faculdade e ai teremos que apostar outra vez em alguma coisa
para podermos pagar a festa de formatura ,a beca, o canudo e o anel de doutor. Façamos
isso, façamos aquilo, façamos qualquer coisa. A diferença
está em não deixar o sonho morrer. Mesmo que tornem-se só
as boas recordações de como se eram bons aqueles dias idos em que
ainda conseguíamos sonhar. Talvez
tornem-se os sonhos dos outros, talvez de um filho, talvez de um neto, talvez
daquele vizinho que vê você sair de manhã para comprar pão
e aproveita para roubar o seu jornal. Contudo,
não sejamos hipócritas, deixemos isso para aqueles que cumprem mandatos
em colégios obtusos e intitulam-se representantes do povo que, por sua
vez, teima em não aprender a votar; Está cada vez mais difícil
sonhar, até as mentes privilegiadas com mais imaginação turvam-se
ante a fome. Pois
é...enquanto o sonho de consumo de muitos for apenas um prato de comida
as coisas não vão mudar. E se alguém, venturosamente, sair de um desses obtusos colégios apague a luz antes de bater a porta. Não pelo motivo, tradicional, o de se limpar a sujeira no escuro e sim, por que é sempre o povo que paga a conta. | ||